– Você está de brincadeira?
– Eu não brincar. – ele ficou serio – Não da vez de agora.
– Tudo bem, então que dizer que você me trousse aqui para nada? – olhei zangada para ele.
– Se salvar amigo seu é nada para você? – ele continuava serio.
– Não é isso... Esquece! – fiz um sinal de desdém com a mão.
– Se preferir assim for? – ele pulou para o andar de baixo.
– Ei! Espere por mim! – desci as escadas atrás dele.
O lugar era mais confuso do que aparentava ser. As escadas tinham varias passagens e você nunca sabia qual delas a levava para qual caminho. Tentei me localizar pelo salão principal, mas era tudo muito confuso.
Só para entender melhor, entramos pelo tronco e vimos um grande e fundo buraco. Você conseguia ver vários quartos, todos sem paredes e conseguia ver um grande salão no final do buraco. Da entrada você conseguia ver absolutamente tudo do grande esconderijo, mas então aparecem as escadas.
Os dois lados da entrada são cercados por duas escadas. Elas são as únicas coisas com paredes naquele local. Você entra e não enxerga mais nada além das escadas. Mas se você conseguir entrar em um dos quartos por essas escadas, você consegue ter uma idéia de onde você está. Mas acredite isso é muito difícil.
Continuei andando e tentando seguir na direção em que o chefe foi e fazendo do possível ao impossível para não me perder no meio de tanta escadaria. Se eu não estivesse tão desesperada, estaria achando tudo isso extremamente divertido.
– Ei! Pare! – gritei quando vi o chefe – Fique ai mesmo!
– Querer você que eu ficar? – ele perguntou.
– Sim! – respondi tentando localizar qual caminho usaria para chegar até onde o chefe estava.
Por incrível que pareça os outros seres do bosque não ficavam nem um pouco espantados ou com raiva quando invadia seus quartos. Eles simplesmente agiam como se eu não estivesse por ali ou como se já tivessem se acostumado com a falta de privacidade.
Continuei descendo as escadas e novamente perdi o chefe de vista. Isso era um pouco irritante. Tentei manter a calma e não estourar e começar a fazer um escândalo. Esse chefe trapaceiro!
– Chefe! – gritei quando o vi novamente – Pare de fugir de mim!
– Não fugir de você eu estar! – ele parecia debochar da minha cara – Apenas querer ao salão grande chegar!
– E onde fica esse salão grande? – confesso que foi uma pergunta ridícula.
– O salão ser o salão. Centro de toda árvore. No meio ficar.
– Mas não poderia esperar por mim? – segui pelas escadas.
Desta vez consegui manter o chefe a vista. Ao estava aprendendo a me locomover naquela louca construção ou ela é que havia se simplificado.
Olhei para todo o percurso que havia feito e me surpreendi com o caminho que havia feito. Não parecia lógico eu ter andado por toda aquela árvore em menos de três minutos. Aquilo era algo que demoraria pelo menos duas horas para percorrer. Mas se naquele mundo poucas coisas faziam sentido, naquela árvore absolutamente nada tinha alguma lógica.
O chefe estava sempre a minha frente, pulando de andar em andar por entre os quartos. Por instantes esqueci de que era uma maga e poderia fazer o mesmo. Se tivesse me lembrado disso antes teria poupado tempo.
Assim que entrei em um quarto e avistei o chefe pulei e fui voando para o quarto que o chefe estava. Ele não pareceu surpreso e novamente pulou para outro quarto. Eu, claro, o segui. Ficamos nesta perseguição até chegarmos ao fim do grande buraco.
– Salão Grande finalmente chegar. – ele sorriu.
– O Alexis está por aqui? – perguntei.
– Sim, talvez. – ele olhou para um lado – Ou não, talvez. – ele já estava me irritando. – Isso terá você descobrir sozinha.
– Mas pode me dizer ao menos se ele mudou muito? – tentei ficar calma e me preparar para a resposta.
– Se físico é pergunta, resposta ser sim. – ele balançava a cabeça lentamente – Um de nós ele começar a ser. Mas se pergunta for interior, resposta ser não. Existir algo dentro dele que deixar ele preso a vida que passou. Mas se quiser amigo seu salvar, apressar logo ou ele desaparece.
– O que? – levei um susto – Do que você está falando chefe?
– Varias histórias sobre nós existir por ai. Mas verdadeira nenhuma ser. Nosso nascer, apenas nós sabemos e ninguém mais. Você ser primeira a saber o que de verdade aconteceu.
– Agora vai contar histórias? – estava perdendo a paciência.
– Importante ser história de nosso nascer. Gostar você de ouvir. – ele se sentou e eu fiz o mesmo – Após rei proibir entrada no santuário, bosque ser amaldiçoado para sempre. Magia irreversível, ninguém além de rei poder quebrar. Ele dizer que todos aqueles que ordens suas desobedecer, amaldiçoados serão e eternamente preso em bosque ficarão. Esquecer de vida todos irão e viver feito selvagens para toda vida. Por isso nascer todos nós.
– Não se ofenda – eu disse – mas por que eu acharia essa história importante?
– Amigo seu não ser um de nós por completo. – ele suspirou – Vida antiga ainda se lembrar. Ele preso ao outro mundo que viveu, maldição não se cumprir. Se não amigo seu encontrar e se não amigo seu ajudar a se lembrar amigo seu sumirá. Maldição o fará sumir para sempre.
– E por que não me contou isso antes? – fiquei nervosa – Eu exijo que o traga para mim agora!
– Não poder eu trazer. – o chefe respondeu – Contra regras ser. Você achar amigo seu precisa.
– Mas você poderia ao menos... Pode ser qualquer um?
– Qualquer um pode ser amigo seu. – ele ficou bem serio – Qualquer um pode não ser amigo seu.
– Quer parar de me por nervosa por favor?! – gritei alto demais.
– Deixar sozinha você eu irei.
O chefe seguiu para uma sala e sumiu na escuridão. Eu estava sozinha com vários possíveis Alexis. Não sabia por onde começar e não sabia se tinha tempo o suficiente para perder. Resolvi começar a conversar com eles.
– Desculpe... – não sabia como começar – Você me conhece?
– Ser moça que ajudar a matar dragão e transformar bosque no que virou. – ignorei essa resposta.
– Mas você me conhece? Digo, tem outras lembranças minhas? – tentei.
– Ser moça que ajudar a matar dragão e transformar bosque no que virou. – ele repetiu a resposta – Não ser lembranças suficientes?
– Obrigada! – desisti.
Todas as pessoas com quem conversei foram a mesma situação. Lembravam de mim, mas apenas como a “que ajudar a matar dragão e transformar bosque no que virou” e nada mais. Isso era péssimo.
Tentei e tentei várias e várias vezes. Estava sendo um pesadelo. Eu nunca iria achar-lo. Talvez ele já tivesse desaparecido e eu estava ali, sujeita a me transformar em um deles a qualquer momento. Tinha que tirar esse pensamentos da minha cabeça.
– Olá? – continuei tentando – Por acaso me conhece?
– Ser a moça que ajudar a matar...
– ...matar dragão e transformar bosque no que virou. – completei – Obrigada.
Estava realmente preocupada. Não queria desperdiçar mais nenhum segundo. Eu tinha que achar o Alexis. Não poderia desistir jamais. Não era apenas a minha vida que estava em jogo. Eu precisava salvar Alexis para poder salvar toda Ofir. Eu sentia que sem Alexis eu nunca derrotaria Bianor.
– Chefe? – comecei a falar sozinha – Será que poderia aparecer? Chefe?
– Estar aqui! – ele apareceu do nada.
– Que susto! – coloque a mão no coração.
– Amigo seu achar? – ele perguntou.
– Ainda não chefe! – estava chorando – Você precisa me dizer onde o Alexis está! Não sinto que ele esteja entre os que estão aqui.
– Querer ajudar, mas não poder. São regras.
– Mas que regras? Quem colocou essas regras? – estava nervosíssima.
– Regras sempre existir. Maldição impor regras. Regras serem...
– Não precisa explicar! – cortei logo o assunto – Não quero perder tempo.
Corri, saltei e comecei a voar até o topo. Eu estava chorando, sentia as lágrimas molhando minhas roupas. Estava desesperada, meu coração estava prestes a sair do meu corpo e preferia nem imaginar como estava meu rosto. Por que essas coisas sempre acontecem comigo?
Cheguei ao topo mais rápido do que quando desci ao Salão Grande. Isso era ótimo, estava precisando de todo o tempo que me fosse possível ter. Sai da árvore/esconderijo e tive uma grande surpresa.
– O que vocês estão fazendo aqui? – perguntei.
Na minha frente estavam Cosmo, Thalassa, Tales e Nicardo. Sem dúvida uma grande surpresa – ainda estava me decidindo se era uma agradável ou desagradável surpresa.
– Você demorou tanto para voltar. – Cosmo começou a se explicar – Eu tive que voltar e pedir ajuda.
– Cosmo, seu apressado, eu não demorei nem 20 minutos! – gritei tentando esconder o choro.
– 20 minutos? – Cosmo estranhou – Beatriz você está sumida há quase 2 dias!
– 2 dias? – gritei – Impossível!
– Achamos que nem iríamos te achar. Pelo menos não tão rápido. – Cosmo coçou a cabeça.
– Mas como? – também cocei a cabeça.
– Passar diferente tempo dentro do esconderijo. – uma voz surgiu do nada.
– Que susto! – disse quando vi o chefe ao meu lado – Vai começar a aparecer de surpresa agora?
– Desculpe. – ele baixou a cabeça – Tentarei assustar você não mais.
– Eu ficaria agradecida! – sorri. – Esses são os meus outros amigos.
– Conhecer todos, menos esse! – ele apontou para Cosmo.
– Ele é novo. – respondi.
– Não parecer novo! – ele chegou perto de Cosmo – Parecer mais velho que você!
– Não chefe! – sorri de verdade – Ele é novo no grupo. Entrou há pouco tempo.
– Mas explique melhor essa história do tempo. – Nicardo estava serio.
– Tempo passar mais devagar em esconderijo. – o chefe começou a explicar – Tempo ser relativo em cada lugar mágico. Lugar mágico esconderijo ser, tempo passar diferente.
– Mas por que o tempo passa normalmente no bosque? – perguntei.
– Bosque não ser lugar mágico, ser lugar amaldiçoado. – o chefe respondeu.
– Nossa, faz muita diferença.
– Diferença sim fazer! – o chefe se zangou – Lugar mágico nasce mágico. Sempre ser mágico desde o inicio dos tempos. Lugar amaldiçoado não nascer mágico, ser transformado em mágico. Não ser a mesma coisa.
– Mas espere um minuto! – comecei a raciocinar – Se eu estou aqui há quase 2 dias por que não me transformei em um ser do bosque?
– Pergunta boa ser! – o chefe balançou a cabeça positivamente.
– Então não sabe a resposta? – estava surpresa.
– Não saber resposta para isso. – ele respondeu. – Fato talvez de não 24 horas passar no esconderijo ser resposta.
– Acho que isso não importa muito. – disse um pouco apressada – Acho que você já estão sabendo o motivo de eu ter vindo aqui.
– Na verdade não. – Nicardo resmungou – Cosmo não contou nada.
– Cosmo! – não sabia se ficava feliz ou chateada.
– Amigo seu estar atrás! – o chefe antecipou minha resposta.
– Está atrás do Alexis. – Nicardo estava me assustando – Você recuperou toda a memória e veio atrás do Alexis. Você deveria ter me comunicado!
– Calma, não é isso. – fiquei assustada.
– Então o que é? – Nicardo perguntou.
– É isso! – estava confusa – Mas não é assim como você está falando. Nicardo, depois a gente conversa.
– Mas você ao menos conseguiu achar o Alexis? – Nicardo estava muito chateado.
– Não. – respondi de cabeça baixa.
– Veio inutilmente! – Nicardo falou um pouco grosso demais.
– Não! – levantei a voz – Ainda vou achar-lo. Não dá para voltar sem ele.
– Eu imagino o motivo. – estava com muito medo das reações do Nicardo.
– Não é isso que você está pensando! – menti. Em partes.
– Por que ele não te mostra onde o Alexis está? – Cosmo tentou não parecer ofensivo quando disse “ele” apontando para o chefe com os olhos.
– Ele não pode! – respondi – Tem uma regra estúpida que o proíbe de me ajudar.
– Que ótimo! – Nicardo não estava bem.
– Estão ajuda precisando vejo eu! – o chefe deu alguns passos à frente – Ajudar não poder diretamente, mas dar chance de escolher.
O chefe estalou os dedos e quatro seres do bosque apareceram na nossa frente. Eram seres do bosque diferentes dos demais. Eles tinham uma altura maior e um corpo mais parecido com os de um humano, mas seu corpo era feito de sombras e folhas, nada era 100% nítido e estava começando a entender qual seria a proposta do chefe.
– Aqui ter quatro amigos seus possíveis. – ele chegou perto dos quatro seres – Três ser de mentira, ilusão. Apenas um ser o verdadeiro. Se verdadeiro escolher, estará livre. Se errar, ficará preso amigo seu até sumir.
– Sumir? – Thalassa perguntou – O que ele está dizendo?
– É uma longa história! – olhei para o chefe. Ele entendeu e assentiu – Essa floresta foi amaldiçoada pelo rei pouco depois de ser proibida as visitas ao santuário. Todos que entram esquecem-se de quem eram e ganham nova forma. Mas Alexis não esqueceu completamente seu passado. Existe algo nele que o prende ao mundo de onde ele veio e isso não está deixando a maldição se cumprir. O fato é, se a maldição não se cumprir Alexis vai desaparecer para sempre.
– Serio? – senti um tom de deboche e prazer em Nicardo.
– Perder tempo não poder você! – o chefe disse – Ser rápida e logo escolher quem amigo seu ser.
– Assim, tão rápido? – pergunta idiota.
– Ele disse que não pode perder tempo. Acho que é assim “tão rápido” sim! – Nicardo estava muito estranho. Nunca tinha o visto ser tão... Insuportável.
Reparei que ainda estava chovendo e notei que a situação começava a ficar idêntica a cena do meu sonho. Eu comecei a me apavorar.
– E se eu errar? – disse alto.
A chuva ficava mais forte ainda, como no meu sonho e quase não conseguia respirar.
– Eu estou com medo! – as falas estavam mudadas, mas a chuva aumentou exatamente como no sonho.
– Você precisar, amigo seu sumir para sempre! – chefe continuava me pressionando.
– Eu preciso? Tem que ser eu? – estava chorando de desespero – Eu não consigo! Eu não posso! Eu não posso!
– Tente! – o chefe falou.
– Tente, tente, tente, tente, tente! – varias vozes surgiram das árvores.
– Eu não consigo. Não consigo! – a chuva não dava trégua e o meu sonho continuava se concretizando.
– Faça um esforço. – os quatro falam ao mesmo tempo – Por mim.
– Você é... Não você... Você... Eu não consigo!
– Você consegue! – Era Thalassa.
– Você consegue! – Tales veio para o meu lado.
– Não poderia evitar para sempre! – Nicardo estava muito triste.
– O Alexi é...
– Não desista! – a voz feminina surgiu dentro da minha cabeça. Agora eu reconhecia a voz. Era a Rainha Alina.
– Você! – apontei para o terceiro – Você é o verdadeiro Alexis! Príncipe e herdeiro do trono da Capital!
Fechei os olhos. Não queria ver o que havia feito. Tinha certeza absoluta de que havia errado e estava muito apavorada para encarar o meu erro. Eu havia posto tudo a perder. Maldita sorte! Ou melhor, maldita má sorte!
Senti uma mão segurando meu ombro. Acreditei que fosse Nicardo, mas não pareciam as mãos dele. Eram mais leves e suaves. Eram como umas mãos que conheci algum tempo. Um suspiro forte bateu em meus ouvidos. Alguém se aproximou.
– Você conseguiu Beatriz! – eu conhecia muito bem essa voz – Você me libertou!