Meus sonhos sempre foram um tanto quanto "esquisitos" se for comparar com a da maior parte das pessoas. Quase que a maioria esmagadora das coisas que escrevo tem alguma influência de sonhos que tive. Esse é um dos casos. Tive esse sonho no ano passado, no mês de julho - pelo menos é o que consta nos registros - e foi um dos sonhos que, acredite se quiser, eu mais gostei. Não por acaso eu corri para registrar tudo o que estava se passando em minha mente. O texto porém não tem um final. Aconteceram outras coisas após o fim do texto, mas essas partes pareciam confusas, sem nexo. E para quem achou o sonho muito grande, bem, foi uma noite inteira acordando e voltando para o mesmo sonho.
A noite não estava começando muito bem. Acho que nenhuma noite que começa chuvosa pode ser uma boa noite. Mas esta em questão não poderia ser uma boa noite em hipótese alguma.
Eu havia sido despedido do meu emprego no dia anterior. Aquele havia sido o primeiro dia desempregado. Não que eu me importasse tanto com meu emprego, mas eu precisava me sustentar de alguma forma. Acabei dormindo por toda a manhã. Acordei à tarde, comi algo e voltei a dormir. Fui acordado com o barulho infernal de buzinas, carros e gritos.
– Mas que merda está acontecendo lá fora? – me perguntei.
Olhei pela janela do quarto. Estava um verdadeiro pandemônio. Carros corriam desesperadamente, passando por cima de pessoas que corriam tão desesperadamente quanto os carros. Não conseguia ver direito, mas parecia que haviam pessoas feridas. Muito feridas.
Vesti uma camisa e corri para a sacada. Precisava ver aquilo de perto. Não estava acreditando no que meus olhos estavam vendo, até que o telefone tocou.
– Alô? – era a Carol – Você está vendo o que eu estou vendo?
– Se não estiver tendo o mais estranho dos pesadelos, acredito que sim. – falei um pouco nervoso – Onde você está?
– Eu estou em casa! – ela respondeu – E você?
– Estava dormindo. – respondi.
De repente o celular apitou avisando que tinha alguém tentando me ligar. Era o Augusto. Coloquei na linha.
– Ainda bem que você atendeu! – Augusto parecia nervoso – Achei que você também tinha se transformado.
– Transformado em que? – Carol perguntou.
– Você também está bem? – Augusto parecia estar começando a ficar menos nervoso.
– Na medida do possível. – Carol respondeu.
– Mas o que está acontecendo? – perguntei – Você sabe?
– Eu não sei direito. – Augusto voltava a ficar nervoso – Eu estava andando de moto quando de repente um cara se jogou com tudo para cima de mim. Acabei caindo da moto.
– Mas você está bem? – Carol agora se preocupava.
– Estou. – Augusto respondeu – Um pouco arranhado. Não sei, mas acho que cortei a perna. Ela está sangrando um pouco.
– Onde você está? – perguntei.
– Chegando na sua casa! – Augusto respondeu ofegante.
– Na minha? – Carol perguntou.
– Não! – Augusto falou alto – Na do Felipe.
– Você está dirigindo? – Carol ficou apavorada.
– Sim! – Augusto continuava com jeito de preocupado.
– Mas e a sua perna? – ela perguntou.
– Dane-se a minha perna! – Augusto parecia estar tentando se controlar – Eu quero é salvar a minha vida.
– Mas o que está havendo? – perguntei novamente.
– Zumbis! – Augusto fez a resposta parecer uma piada – Eu nunca pensei que isso fosse possível, mas é um apocalipse zumbi!
Desci as escadas e corri para a sala. Era exatamente como nos filmes. Devo ter ficado branco de medo. Eu sempre acreditei que coisas assim nunca aconteceriam na vida real. Mas acontecem. E ela não estava sendo como eu imaginei que era.
Augusto chegou. A moto dele estava em uma velocidade altíssima. E ele parecia ter um pedaço de madeira na mão. Uma cena inusitada acabou acontecendo. Augusto estava usando aquele pedaço de madeira para esmagar a cabeça dos zumbis. “Zumbis” era muito estranho usar esta palavra na realidade. Isso sempre foi tão ficcional que ainda parecia uma piada aceitar que isso estivesse realmente acontecendo.
Abri a porta rapidamente e fechei com a mesma rapidez. Os zumbis eram lentos, mas se eu queria sobreviver eu não podia facilitar. E o simples fato de ainda estar tão próximo a eles já era um risco muito grande.
– Você está bem de verdade? – perguntei.
– Somente a perna que está doendo pra caramba! – Augusto respondeu fazendo uma careta.
– Ótimo. – bati em minha cabeça – Quando mais se precisa eu não tenho nem um kit de primeiros socorros.
– Mas isso é o de menos! – Augusto falava alto – Precisamos sair daqui!
– E o William? – perguntei.
– Ele não atende o celular. – Augusto falou um pouco aflito.
– Será que ele...? – não tive coragem de terminar a frase.
– A única coisa que sei é que precisamos sair daqui. – Augusto mancava.
– Será que a Carol ainda está bem? – me lembrei.
Liguei para a Carol no mesmo instante. Ela demorou a atender. Minha garganta começou a fechar de preocupação. Mas ela atendeu.
– Augusto chegou? – ela perguntou.
– Já está aqui. – respondi – Você está bem?
– Até agora sim! – ela respondeu – Estou com todas as portas e janelas fechadas.
– Você está com mais alguém? – perguntei.
– Não! – ela respondeu aflita – Estou sozinha.
– Está armada? – perguntei.
– Estou com uma faca. – Carol respondeu com a voz tremula.
– Já é alguma coisa! – falei – Lembre-se: Na cabeça!
– O que? – Carol parecia não ter entendido.
– Você tem que acertar na cabeça! – expliquei novamente – Se isso for realmente igual aos filmes você deve acertar-los na cabeça.
– E se não for igual aos filmes? – ela perguntou.
– Torça para que seja. – respondi um pouco áspero.
– O que vocês vão fazer? – Carol perguntou preocupada.
– Por enquanto acho que não tem mais nada a fazer além de esperar. – estava começando a me desesperar falando isso – Não desligue o celular! Vamos deixar no viva-voz. Neste momento precisamos ficar unidos de alguma forma.
– Tudo bem. – Carol parecia ter ficado um pouco mais aliviada – Eu também penso assim.
Augusto parecia estar prendendo os gritos. O corte em sua perna não era nada bonito. Ajudei a enfaixar com um pedaço de lençol que tinha acabado tirar do varal. Eu não entendia absolutamente nada de primeiros socorros, foi o máximo que consegui fazer. Estava preocupado em saber se ele havia quebrado alguma coisa.
A noite foi passando e as coisas só foram ficando cada vez mais desastrosas do lado de fora. Tinha muito medo de olhar pela janela. Comecei a pensar em onde estariam os outros. O que havia acontecido a William e Silvia. Será que eles haviam conseguido se salvar?
Já era quase uma da manhã quando ouvi barulho de tiros e algo que parecia um helicóptero. Desta vez me arrisquei em ir olhar na janela. Eram vários homens vestindo estranhas roupas de látex vermelhas que estavam agindo. Não conseguia identificar nada parecido com aquilo em minha memória. Não fazia a menor idéia de onde eles surgiram.
De repente um susto. A porta da minha casa é arrombada.
– O que foi isso? – Carol gritou.
– Vejam! – um dos homens emborrachados apontou para Augusto e eu – Eles ainda estão vivos.
– Mas aquele ali está ferido! – outro homem emborrachado alertou – Será que foi mordido?
– Você chegou aqui faz quanto tempo? – já estava ficando confuso com esses emborrachados.
– Desde o inicio da noite. – Augusto parecia tão confuso quanto eu – Umas 19:00 horas mais ou menos.
– Pelo tempo ele já deveria...
– Rápido – um dos emborrachados interrompeu o outro – Leve-os que eu lhe dou cobertura.
– Entendido! – o outro fez sinal com a mão – Vamos! Eu ajudo você.
– O que está acontecendo? – Carol perguntou.
– Quem é ela? – o emborrachado pegou o celular.
– É uma amiga nossa. – respondi – Estávamos tentando ficar próximos de alguma forma.
– Não se preocupe. – o emborrachado desligou o celular – Se ela continuar bem logo será resgatada. Agora eu preciso que você dois fiquem quietos por um segundo.
– O que foi? – Augusto perguntou.
O homem emborrachado pegou uma seringa e aplicou uma injeção em Augusto. Ele adormeceu na hora.
– O que está fazendo? – perguntei.
– Não se preocupe! – o emborrachado tirava outra seringa de um tipo de mochilão que tinha nas costas – Isso é apenas para prevenir que vocês não sejam infectados.
Fiquei assustado com toda a situação. Outro homem emborrachado apareceu na porta e ficou atirando loucamente. Era exatamente como nos filmes. Tentei correr do emborrachado com a seringa, mas ele foi mais rápido. A última coisa que me lembrei foi do emborrachado atirando a seringa em minhas costas. Depois disso eu apaguei.
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *
Acordei com a luz forte do sol em meu rosto. Abri os olhos e logo percebi que não estava em casa. Aos poucos fui me lembrando do que havia acontecido.
Eu estava em um quanto junto com Augusto. Era um quarto com paredes em um verde escuro desbotado. Havia três camas de madeira no quarto e uma delas estava uma pessoa que nunca havia visto. Era um homem de pelo menos vinte e poucos anos. Ele estava com uma roupa que parecia ser o uniforme de alguma loja. Corri para a porta. Estava fechada.
– Augusto? – tentei acordá-lo.
– O que foi? – ele começou a reagir – Hã? Onde estamos?
– Eu também não sei. – respondi cochichando.
– O que houve? – Augusto parecia bem confuso – Minha perna está doendo pra caramba.
– Não se lembra de nada? – perguntei.
– Lembrar do que? – ele botava a mão na cabeça.
Aos poucos as expressões no rosto dele começavam a denunciar que ele estava se lembrando de tudo.
– E a Carol? – Augusto se sentou.
– Eu também gostaria de saber. – respondi sério.
– Quem é? – Augusto apontou com os olhos para o rapaz da cama ao lado.
– Também não faço a mínima idéia. – balancei a cabeça negativamente – A única coisa que sei é que precisamos sair daqui.
– Mas acho que primeiro precisamos saber onde é “aqui”. – Augusto se levantou com um pouco de esforço – Será que está morto?
– Não. – respondi – Ainda está respirando.
Um dos homens emborrachados apareceu na pequena janela que havia na porta. Eu e Augusto levamos um susto. Ele abriu a cela.
– Vejo que acordaram. – não conseguia ver o rosto de nenhum deles. Apenas os olhos – Acorde o outro ali e sigam para o corredor à esquerda. Vocês vão sair em um grande pátio. E lá que devem ficar. Não demorem.
– O que está acontecendo? – perguntei.
– No pátio vocês saberão. – o homem emborrachado respondeu áspero.
Acordamos o outro rapaz, que estava mais confuso que todos nós. Explicamos a situação e ele, com um pouco de dificuldade, entendeu. Não tivemos tempo para apresentações. Seguimos direto para o corredor da esquerda.
O corredor levava a uma quase interminável escadaria. O local parecia algum tipo de presídio ou algo do gênero.
Assim que chegamos ao pátio à primeira coisa que vimos foi uma multidão confusa e perturbada. O imenso prédio atrás de nós parecia um arranha-céu de tão grande e os muros não deixavam que a gente enxergasse nada além das nuvens.
– Felipe! Augusto! – Carol nos viu ao longe – Finalmente encontrei vocês. Felipe, sua irmã estava por ai. Ela estava com outros dois rapazes te procurando.
– Ela também está aqui?! – perguntei surpreso e aliviado.
Eu havia sido despedido do meu emprego no dia anterior. Aquele havia sido o primeiro dia desempregado. Não que eu me importasse tanto com meu emprego, mas eu precisava me sustentar de alguma forma. Acabei dormindo por toda a manhã. Acordei à tarde, comi algo e voltei a dormir. Fui acordado com o barulho infernal de buzinas, carros e gritos.
– Mas que merda está acontecendo lá fora? – me perguntei.
Olhei pela janela do quarto. Estava um verdadeiro pandemônio. Carros corriam desesperadamente, passando por cima de pessoas que corriam tão desesperadamente quanto os carros. Não conseguia ver direito, mas parecia que haviam pessoas feridas. Muito feridas.
Vesti uma camisa e corri para a sacada. Precisava ver aquilo de perto. Não estava acreditando no que meus olhos estavam vendo, até que o telefone tocou.
– Alô? – era a Carol – Você está vendo o que eu estou vendo?
– Se não estiver tendo o mais estranho dos pesadelos, acredito que sim. – falei um pouco nervoso – Onde você está?
– Eu estou em casa! – ela respondeu – E você?
– Estava dormindo. – respondi.
De repente o celular apitou avisando que tinha alguém tentando me ligar. Era o Augusto. Coloquei na linha.
– Ainda bem que você atendeu! – Augusto parecia nervoso – Achei que você também tinha se transformado.
– Transformado em que? – Carol perguntou.
– Você também está bem? – Augusto parecia estar começando a ficar menos nervoso.
– Na medida do possível. – Carol respondeu.
– Mas o que está acontecendo? – perguntei – Você sabe?
– Eu não sei direito. – Augusto voltava a ficar nervoso – Eu estava andando de moto quando de repente um cara se jogou com tudo para cima de mim. Acabei caindo da moto.
– Mas você está bem? – Carol agora se preocupava.
– Estou. – Augusto respondeu – Um pouco arranhado. Não sei, mas acho que cortei a perna. Ela está sangrando um pouco.
– Onde você está? – perguntei.
– Chegando na sua casa! – Augusto respondeu ofegante.
– Na minha? – Carol perguntou.
– Não! – Augusto falou alto – Na do Felipe.
– Você está dirigindo? – Carol ficou apavorada.
– Sim! – Augusto continuava com jeito de preocupado.
– Mas e a sua perna? – ela perguntou.
– Dane-se a minha perna! – Augusto parecia estar tentando se controlar – Eu quero é salvar a minha vida.
– Mas o que está havendo? – perguntei novamente.
– Zumbis! – Augusto fez a resposta parecer uma piada – Eu nunca pensei que isso fosse possível, mas é um apocalipse zumbi!
Desci as escadas e corri para a sala. Era exatamente como nos filmes. Devo ter ficado branco de medo. Eu sempre acreditei que coisas assim nunca aconteceriam na vida real. Mas acontecem. E ela não estava sendo como eu imaginei que era.
Augusto chegou. A moto dele estava em uma velocidade altíssima. E ele parecia ter um pedaço de madeira na mão. Uma cena inusitada acabou acontecendo. Augusto estava usando aquele pedaço de madeira para esmagar a cabeça dos zumbis. “Zumbis” era muito estranho usar esta palavra na realidade. Isso sempre foi tão ficcional que ainda parecia uma piada aceitar que isso estivesse realmente acontecendo.
Abri a porta rapidamente e fechei com a mesma rapidez. Os zumbis eram lentos, mas se eu queria sobreviver eu não podia facilitar. E o simples fato de ainda estar tão próximo a eles já era um risco muito grande.
– Você está bem de verdade? – perguntei.
– Somente a perna que está doendo pra caramba! – Augusto respondeu fazendo uma careta.
– Ótimo. – bati em minha cabeça – Quando mais se precisa eu não tenho nem um kit de primeiros socorros.
– Mas isso é o de menos! – Augusto falava alto – Precisamos sair daqui!
– E o William? – perguntei.
– Ele não atende o celular. – Augusto falou um pouco aflito.
– Será que ele...? – não tive coragem de terminar a frase.
– A única coisa que sei é que precisamos sair daqui. – Augusto mancava.
– Será que a Carol ainda está bem? – me lembrei.
Liguei para a Carol no mesmo instante. Ela demorou a atender. Minha garganta começou a fechar de preocupação. Mas ela atendeu.
– Augusto chegou? – ela perguntou.
– Já está aqui. – respondi – Você está bem?
– Até agora sim! – ela respondeu – Estou com todas as portas e janelas fechadas.
– Você está com mais alguém? – perguntei.
– Não! – ela respondeu aflita – Estou sozinha.
– Está armada? – perguntei.
– Estou com uma faca. – Carol respondeu com a voz tremula.
– Já é alguma coisa! – falei – Lembre-se: Na cabeça!
– O que? – Carol parecia não ter entendido.
– Você tem que acertar na cabeça! – expliquei novamente – Se isso for realmente igual aos filmes você deve acertar-los na cabeça.
– E se não for igual aos filmes? – ela perguntou.
– Torça para que seja. – respondi um pouco áspero.
– O que vocês vão fazer? – Carol perguntou preocupada.
– Por enquanto acho que não tem mais nada a fazer além de esperar. – estava começando a me desesperar falando isso – Não desligue o celular! Vamos deixar no viva-voz. Neste momento precisamos ficar unidos de alguma forma.
– Tudo bem. – Carol parecia ter ficado um pouco mais aliviada – Eu também penso assim.
Augusto parecia estar prendendo os gritos. O corte em sua perna não era nada bonito. Ajudei a enfaixar com um pedaço de lençol que tinha acabado tirar do varal. Eu não entendia absolutamente nada de primeiros socorros, foi o máximo que consegui fazer. Estava preocupado em saber se ele havia quebrado alguma coisa.
A noite foi passando e as coisas só foram ficando cada vez mais desastrosas do lado de fora. Tinha muito medo de olhar pela janela. Comecei a pensar em onde estariam os outros. O que havia acontecido a William e Silvia. Será que eles haviam conseguido se salvar?
Já era quase uma da manhã quando ouvi barulho de tiros e algo que parecia um helicóptero. Desta vez me arrisquei em ir olhar na janela. Eram vários homens vestindo estranhas roupas de látex vermelhas que estavam agindo. Não conseguia identificar nada parecido com aquilo em minha memória. Não fazia a menor idéia de onde eles surgiram.
De repente um susto. A porta da minha casa é arrombada.
– O que foi isso? – Carol gritou.
– Vejam! – um dos homens emborrachados apontou para Augusto e eu – Eles ainda estão vivos.
– Mas aquele ali está ferido! – outro homem emborrachado alertou – Será que foi mordido?
– Você chegou aqui faz quanto tempo? – já estava ficando confuso com esses emborrachados.
– Desde o inicio da noite. – Augusto parecia tão confuso quanto eu – Umas 19:00 horas mais ou menos.
– Pelo tempo ele já deveria...
– Rápido – um dos emborrachados interrompeu o outro – Leve-os que eu lhe dou cobertura.
– Entendido! – o outro fez sinal com a mão – Vamos! Eu ajudo você.
– O que está acontecendo? – Carol perguntou.
– Quem é ela? – o emborrachado pegou o celular.
– É uma amiga nossa. – respondi – Estávamos tentando ficar próximos de alguma forma.
– Não se preocupe. – o emborrachado desligou o celular – Se ela continuar bem logo será resgatada. Agora eu preciso que você dois fiquem quietos por um segundo.
– O que foi? – Augusto perguntou.
O homem emborrachado pegou uma seringa e aplicou uma injeção em Augusto. Ele adormeceu na hora.
– O que está fazendo? – perguntei.
– Não se preocupe! – o emborrachado tirava outra seringa de um tipo de mochilão que tinha nas costas – Isso é apenas para prevenir que vocês não sejam infectados.
Fiquei assustado com toda a situação. Outro homem emborrachado apareceu na porta e ficou atirando loucamente. Era exatamente como nos filmes. Tentei correr do emborrachado com a seringa, mas ele foi mais rápido. A última coisa que me lembrei foi do emborrachado atirando a seringa em minhas costas. Depois disso eu apaguei.
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *
Acordei com a luz forte do sol em meu rosto. Abri os olhos e logo percebi que não estava em casa. Aos poucos fui me lembrando do que havia acontecido.
Eu estava em um quanto junto com Augusto. Era um quarto com paredes em um verde escuro desbotado. Havia três camas de madeira no quarto e uma delas estava uma pessoa que nunca havia visto. Era um homem de pelo menos vinte e poucos anos. Ele estava com uma roupa que parecia ser o uniforme de alguma loja. Corri para a porta. Estava fechada.
– Augusto? – tentei acordá-lo.
– O que foi? – ele começou a reagir – Hã? Onde estamos?
– Eu também não sei. – respondi cochichando.
– O que houve? – Augusto parecia bem confuso – Minha perna está doendo pra caramba.
– Não se lembra de nada? – perguntei.
– Lembrar do que? – ele botava a mão na cabeça.
Aos poucos as expressões no rosto dele começavam a denunciar que ele estava se lembrando de tudo.
– E a Carol? – Augusto se sentou.
– Eu também gostaria de saber. – respondi sério.
– Quem é? – Augusto apontou com os olhos para o rapaz da cama ao lado.
– Também não faço a mínima idéia. – balancei a cabeça negativamente – A única coisa que sei é que precisamos sair daqui.
– Mas acho que primeiro precisamos saber onde é “aqui”. – Augusto se levantou com um pouco de esforço – Será que está morto?
– Não. – respondi – Ainda está respirando.
Um dos homens emborrachados apareceu na pequena janela que havia na porta. Eu e Augusto levamos um susto. Ele abriu a cela.
– Vejo que acordaram. – não conseguia ver o rosto de nenhum deles. Apenas os olhos – Acorde o outro ali e sigam para o corredor à esquerda. Vocês vão sair em um grande pátio. E lá que devem ficar. Não demorem.
– O que está acontecendo? – perguntei.
– No pátio vocês saberão. – o homem emborrachado respondeu áspero.
Acordamos o outro rapaz, que estava mais confuso que todos nós. Explicamos a situação e ele, com um pouco de dificuldade, entendeu. Não tivemos tempo para apresentações. Seguimos direto para o corredor da esquerda.
O corredor levava a uma quase interminável escadaria. O local parecia algum tipo de presídio ou algo do gênero.
Assim que chegamos ao pátio à primeira coisa que vimos foi uma multidão confusa e perturbada. O imenso prédio atrás de nós parecia um arranha-céu de tão grande e os muros não deixavam que a gente enxergasse nada além das nuvens.
– Felipe! Augusto! – Carol nos viu ao longe – Finalmente encontrei vocês. Felipe, sua irmã estava por ai. Ela estava com outros dois rapazes te procurando.
– Ela também está aqui?! – perguntei surpreso e aliviado.