Esse era mais um dos textos que seriam inclusos na versão original de "Os Sonhos de Lucy". A ideia era escrever um romance (e continua sendo), mas isso é apenas para o futuro. Esse nem era um capítulo de fato, apenas algo que escrevi para testar como seria o tom da história. E sim, apesar de não ser muito fã da Selena Gomez, o título foi inspirado na canção "A Year Without Rain", achei a ideia de seca interessante, mas creio que se algum dia voltar a escrever sobre Liki, esse pano de fundo não será mais utilizado.
– Deixa de ser bobo Aini! – tentava convencer esse tolo garoto.
– Liki, eu não sei... – Aini olhava torto para a caverna.
– É só uma caverna Aini! – sorri – Assim como todas as outras cavernas que já exploramos. O que pode ter de perigoso nesta?
– Um urso, talvez um lobo. – ele tremia de medo.
– Os ursos estão hibernando. – coloquei a mão na cintura.
– Mas isso não impede que ele acorde com a nossa presença. – ele continuava parado na frente da entrada.
– Aini! – falei alto – Entra nesta caverna agora!
O legal de ser amiga do Aini. Nós podemos mandar nele como uma facilidade incrível.
A caverna era realmente como todas as outras cavernas: pedras, pedras, pedras, goteiras e pedras. Mas sempre existe algo especial em cada caverna. E nessa não poderia ser diferente.
Andamos um pouco caverna adentro com o lampião do meu pai – se ele descobre... eu estou encrencada de verdade. Já haviam se passado pelo menos dez minutos desde que entramos e já estava pensando em voltar quando vejo algo brilhando alguns metros a minha frente.
– O que é aquilo? – perguntei curiosa.
– Liki, pode ser perigoso! – Aini estava bem atrás de mim.
– Aini, por favor, me deixa! – disse sem tirar os olhos do objeto.
– Liki... – Aini continuava tremendo.
Comecei a reconhecer o objeto no decorrer do caminho. E comecei a reparar que estava preso em algo que faria o Aini não precisar usar o banheiro hoje.
– Liki? – Aini começava a ofegar de medo – Aquilo é o que está parecendo ser?
– Parece que aquilo é o que está parecendo ser! – sorri – Um belo bracelete de ouro!
– Não estou falando do bracelete, mas do que está usando o bracelete. Ou pelo menos estava. – sua voz começava a sumir.
– Está falando do esqueleto? – quase gargalhei – Aini?! Ele já morreu!
– E você diz isso com tanta naturalidade? – sua voz perdia o tom.
– Ele não vai sentir falta. – sorri – Não é verdade?
Peguei o bracelete e o antebraço do esqueleto se soltou – para o desespero de Aini. Retirei o bracelete e joguei o braço de volta ao esqueleto, que caiu se desmontando inteiro.
– Liki o que você fez? – Aini estava apavorado.
– Peguei o bracelete! – limpava o objeto com a manga da minha blusa.
– E você vai deixar o pobre morto todo desconjuntado? – Aini olhava para o esqueleto.
– Quer remontar-lo? – encerrei o assunto.
Saímos da caverna e corremos para a tribo. Não era muito bom ficar tempo demais longe dos olhos do povo. Eles são um pouco fofoqueiros quando o assunto é a minha vida particular.
– Não é belo Aini? – perguntei admirando o bracelete.
– É apavorante! – Aini ainda estava com a voz tremula – Não sei como consegue segurar isso.
– Não sei como você não consegue segurar isso. – continuava admirando o bracelete.
– Agora quer fazer o favor de esconder antes que alguém veja?
Entravamos na tribo por uma passagem que descobri quando ainda era criança. Era quase um caminho subterrâneo. Uma falha no meio de uma montanha de folhas que forma um caminho, melhor, um atalha da minha tribo para o mundo exterior. Apenas eu e minha mãe sabíamos dessa passagem. Sinto tanta falta dela.
Passeamos entre as pessoas como se nunca tivéssemos saído dali. Não sei se alguém já desconfiou de minhas fugidas algum dia, mas se desconfiou ainda não se manifestou.
– Vocês demoraram demais! – Renzhu sussurrou na entrada da nossa cabana.
– Foi o Aini que empacou na entrada da caverna. – também sussurrei.
– O papai logo vai voltar! – Renzhu falava preocupado – Se demorasse mais um pouco...
– Fique tranquilo meu querido irmão, eu nunca vou deixar você na mão! – disse debochando um pouco de Renzhu.
– Vai rindo! – Renzhu fez bico – Um dia papai descobre e não serei só eu que acabarei mal nessa história!
– Você se preocupa demais Renzhu! – sorri.
– Mas ele tem razão. – Aini estava mais calmo – Você se arrisca demais.
– Pegou alguma coisa pelo menos? – Renzhu reclamava, mas adorava minhas descobertas.
Tirei o bracelete da minha bolsa e instantaneamente Renzhu esqueceu tudo e qualquer coisa que ele havia me alertado. Estava maravilhado, tanto quanto eu.
– Mas é lindo! – Renzhu tentou pegar da minha mão, mas não deixei.
– Você não acharia lindo se visse da onde ela pegou isso. – Aini voltou com a fala tremula.
– Não me diga que você roubou isso? – Renzhu se assustou – Não disse que achou em uma caverna.
– Mas eu achei! – fitei Aini com raiva – O que o Aini está tentando dizer é que ele é extremamente medroso e está achando que o fantasma do esqueleto na caverna vai vir atrás dele puxar o seu pé.
– Esqueleto? – Renzhu suspirou aliviado – Achei que você tivesse cometido uma loucura.
– E isso não é loucura o suficiente? – Aini falou um pouco alto – Um esqueleto Renzhu. Um es-que-le-to! Você sabe o que é um esqueleto? É uma pessoa morta!
– Deixa de ser exagerado Aini! – fiz um gesto de desdém com a mão – E só um esqueleto.
– Só um esqueleto! – Renzhu tomou o meu partido.
– Que vergonha Aini. – brinquei com Aini – Você, um garoto de 18 anos, ter menos coragem que o Renzhu que ainda nem completou 13 anos.
– Não fique tirando uma com a minha cara! – Aini se zangou.
– Calma Aini! – fui abraçar-lo – Estamos só brincando.
– Mas deixando as brincadeiras de lado, melhor guarda esse bracelete antes que o papai chegue. – Renzhu tinha razão. Seria um problema se o papai visse aquilo.
Aos fundos da tribo havia uma grande árvore. Mas uma grande árvore mesmo. A maior que já vi em toda minha vida – e eu não costumo exagerar.
Era uma árvore velha, mas muito resistente. Tinha longos galhos e um buraco relativamente grande. Dentro da árvore havia uma parte oca e grande o suficiente para guardar coisas. Era como um baú e com a vantagem de ninguém passar por lá com frequência – mas por segurança colocava um pedaço de madeira camuflando o buraco.
Nesta árvore que eu escondia todas as minhas descobertas. Eu tinha um pouco de tudo: Anéis, brincos, colares, pulseiras, braceletes, pedras estranhas, alguns fósseis e até pedaços de pintura.