Sentir o Alexis era muito mais emocionante que em meus sonhos. Saber que tudo aquilo era real foi mais do que eu podia aguentar. Era muito. Era realmente muito. Era muito mais do que eu podia suportar.
Meu coração não parava por um único segundo de acelerar. Sentia que havia cortado o freio e agora estava com o coração completamente desgovernado. Tinha medo que ele explodisse de tanta emoção.
Minhas pernas também não ajudaram. Tremiam mais que qualquer outra coisa e eu sabia que não era frio. Já havia esquecido que estava chovendo e que eu estava completamente ensopada, assim como todos os outros. Teria muita sorte se não pegasse um resfriado – e vendo o que aconteceu, começo a acreditar que minha sorte está mudando.
– O que foi? – sua voz parecia ainda mais bela – Não está me reconhecendo mais?
– Estou seu bobo. – não sei como isso saiu – Mas não estou acreditando que acertei. Tinha certeza de que iria acertar.
– Já eu não tinha dúvidas! – ele abriu um largo sorriso.
Alexis estava mexendo comigo de uma forma que eu não conseguia entender. Era mais forte que qualquer coisa que eu já havia sentido. Não era mais apenas uma paixão passageira, era amor de verdade e esse reencontro só havia confirmado isso.
Tive que segurar o impulso de beijar-lo. Não queria fazer essa crueldade com Nicardo. Ainda éramos namorados e eu ainda devia respeito a ele. Se pudesse ao menos terminar com Nicardo sem magoas.
– Você não mudou nada! – Alexis continuava falando – Nem parece que se passaram... Quanto tempo já se passou?
– 1 ano e alguns dias. – Thalassa respondeu.
– Que bom! – Alexis suspirou aliviado – Achei que poderia ter passado mais tempo. Como vocês lidam com o tempo? – Alexis perguntou ao chefe.
– Não saber. – ele deu de ombros – Tempo ser insignificante. Nós ter todo mundo de tempo. Não prender a coisas essas.
Olhei para o braço de Alexis. Uma grande cicatriz contornava o braço esquerdo, pouco abaixo do cotovelo. A triste lembrança do meu último dia em Ofir no ano anterior me veio à cabeça de imediato. Certas coisas eu preferia não ter me lembrado. Era doloroso demais para ser mantido em minhas lembranças.
A chuva começou a diminuir, mas não parou. Por alguns instantes o bosque ficou mais verde e pude sentir algo mágico no ar.
– Magia de bosque querer bosque de volta como era. – o chefe falou quando viu meu rosto – Mas magia ser muito fraca para isso fazer.
– Minha promessa ainda está de pé! – disse me abaixando um pouco – Eu irei, ainda não sei como, fazer com que esse bosque seja exatamente como ele era antes!
– Que promessa é essa Beatriz? – Cosmo perguntou.
– De certa forma o que aconteceu aqui foi culpa minha. – levante-me – Se eu tivesse lutado contra Bianor na primeira vez que cheguei aqui e cumprido meu destino nada disso teria acontecido. Sinto-me responsável pelo que aconteceu em toda Ofir.
– Mas não foi culpa sua! – Alexis estava tranquilo – Você fez o que qualquer outra pessoa faria. Não era um problema seu, era nosso.
– Que agora se tornou um problema meu. – tentei não parecer nervosa.
– Problema seu, mas que resolver não vai se aqui ficar. – o chefe olhou para o alto. A chuva começava a ficar mais forte novamente – Do bosque sair rápido. Maldição cair em todos se continuarem a ficar.
– Ele tem razão! – Thalassa ficou séria – Já conseguimos o que queríamos, agora vamos sair daqui.
– Então o que estamos esperando? – Tales falou alto – Não quero virar uma dessas coisas! Sem ofensas. – Tales fitou o chefe.
– Não ofender. – o chefe balançou a cabeça.
– Obrigada! – fiz uma reverencia ao chefe – Foi um jeito meio estranho de ajudar, mas sei que fez o seu melhor.
– Agradecido eu ficar depois que bosque ao que era antes voltar. – o chefe sorriu – Agora vão!
Vários olhos iluminaram nosso caminho para fora do bosque. Não queria admitir, mas eu adorava aquele lugar. Apesar do jeito estranho dessa gente, eles são todos legais. Um dia já foram humanos e imagino que devem sofrer por não lembrar quem eles eram antes – sei exatamente como é.
Ficamos muito ocupados tentando chegar ao submarino para conversar, mas notei que Nicardo fitava Alexis a cada 5 minutos. Isso me preocupava demais. Como ele reagiria quando soubesse, ou melhor, tivesse a confirmação de que tudo o que eu sentia pelo Alexis voltou ainda mais forte do que antes?
Alexis parecia nem notar que eu e Nicardo estávamos namorando. Era como se nem desconfiasse deste fato, o que me fez pensar até onde Alexis se recordava da época em que estava se transformando em um ser do bosque.
Quando entramos no submarino – após o susto que Alexis levou – começamos a relaxar e colocar o papo em dia.
– Você é realmente incrível Cosmo! – Alexis admirava o submarino – Se tivéssemos um desses na primeira vez teríamos poupado muito tempo de viajem. Talvez Ofir não estivesse nesta situação.
– Acredito que Ofir chegaria a este estado mais cedo ou mais tarde. – Thalassa estava séria – Essa é uma profecia imutável. Ele tem que acontecer!
– Infelizmente eu sei disto. – Alexis ficou triste.
– Mas nem tudo está perdido! – Cosmo injetou um pouco de esperança na conversa – Estamos aqui! Estamos tentando! Isso não irá durar para sempre. Não é para isso que estamos lutando?
– Boas palavras! – Tales parecia com sono.
– Mas vamos falar de coisas alegres! – resolvi mudar de assunto – Alexis está de volta ao time!
– Vocês não sabem a saudade que eu estava de todos! – Alexis sorriu.
– Nós também estávamos! – Nicardo entrou na conversa com um tom debochado e sínico.
– Nicardo! – Tales falou alto – Você está parecendo o Alexis!
– Deixe-o. – um tom de superioridade muito familiar voltou à voz de Alexis – Eu já conheço a pessoa.
– Mas conte tudo o que aconteceu! – Thalassa cortou o clima estranho.
– Depois que consegui pistas do paradeiro da minha mãe com alguns guardas de Bianor que estavam do nosso lado, comecei a procurar por ela. – Alexis começou a explicar – Eu tentava seguir as pistas, mas algo sempre me levava para outros lugares. Era como se existisse algo que me impedia de chegar perto da minha mãe. Até que uma das pistas me levou para o bosque.
– E por lá ficou! – Tales pensou alto.
– Eu não sei exatamente, mas eu havia conseguido sair do bosque. – Alexis lembrava – Eu sei que parece estranho, mas eu senti que se eu me transformasse em um ser do bosque eu encontraria minha mãe.
– Realmente, parece uma lógica estranha. – Cosmo falou da mesa de controle.
– Eu resolvi voltar e quando dei por mim eu estava me transformando. Tentei memorizar algo imediatamente. Sabia que se tentasse memorizar algo da minha vida eu conseguiria driblar a transformação, então eu pensei na coisa mais importante da minha vida.
– Sua mãe? – Nicardo perguntou.
– Não. Beatriz! – Alexis disse meu nome pausadamente em uma clara demonstração de implicância com Nicardo – Quando eu me esqueci de tudo, apenas a Beatriz me manteve ligado a minha vida anterior e eu sabia que apenas ela poderia me trazer de volta. Por isso eu fiquei desesperado quando senti a presença dela em meu peito. Eu sabia que ela estava em Ofir e tentei loucamente me comunicar com ela, mas nunca conseguia. Até que um dia consegui e agora aqui estou eu de volta. Por isso a Beatriz é minha salvadora.
– Mas ela está comigo agora! – Nicardo levantou a sobrancelha esquerda.
– Por quanto tempo? – Alexis provocou.
– Vamos parar com a briga? – gritei – Vocês dois parecem crianças, que coisa mais feia! Querem que eu coloque os dois de castigo?
Tanto Alexis quanto Nicardo abaixaram as cabeças. Eles realmente estavam agindo feito crianças. Eu estava nervosíssima. Se em menos de 20 minutos os dois já estavam assim, como seria a nossa jornada daqui a 1 mês?
– Mas o que aconteceu por aqui durante o tempo que fiquei preso no bosque? – Alexis mudou de assunto.
– Coisas muito ruins! – Thalassa parecia não querer contar – Leander e Sotero foram destruídas por Bianor. Bianor começou uma guerra particular contra os dois reinos que acabaram não suportando e sendo destruídos.
– Que coisa horrível! – Alexis estava realmente chocado.
– Leander ainda tentou se reconstruir algumas vezes, mas não foi possível. Bianor sempre dava um jeito de destruir tudo o que eles reconstruíam.
– Isso é realmente muito ruim! – Alexis lamentou.
– Mas isso não é o pior. – Thalassa parecia ter medo de continuar contando.
– Ainda tem mais?! – Alexis gritou.
– Depois de Neide, o reino de Calidora também se juntou a Bianor.
– Malditos! – Alexis ficou nervoso – Aqueles cretinos já estavam traindo Ofir desde antes de Beatriz chegar, não sei se fico realmente surpreso com isso. Ainda tem mais?
– Sim! – Thalassa respondeu fechando os olhos.
– Não acredito! – Alexis tapou os ouvidos – Fiquei tanto tempo assim longe?
– As tropas da Capital estão fazendo o que podem para proteger suas fronteiras, mas elas estão enfraquecendo e se nada for feito a Capital será o próximo reino a ser destruído por Bianor.
– Não se pudermos impedir! – tentei soar animador.
– A Beatriz tem razão! – Cosmo da mesa de controle – Nós podemos impedir. Temos muito que fazer, mas sei que conseguiremos!
– Também pensei assim da primeira vez! – Alexis estava triste. Não gostava de ver-lo assim.
Nem um pouco discretamente, Nicardo me puxa para um canto do submarino. Ele estava visivelmente desesperado. Eu sabia exatamente o que ele queria conversar e não estava nenhum pouco pronta para isso.
Seus olhos tinham uma aflição que eu nunca havia visto antes e seus braços tremiam. Eu estava me sentindo horrível, a pior das pessoas, a mais cruel das garotas por fazer Nicardo sofrer tanto.
– Diga a verdade! – ele falou baixo.
– Que verdade? – tentei escapar.
– Você sabe muito bem do que eu estou falando. – ele tentava não parecer nervoso.
– Como eu vou saber se você ainda não disse. – tentava inútil e ridiculamente fugir da conversa.
– Beatriz, pare! – Nicardo me segurou pelo ombro.
– Pare você. Solte-me! – eu estava ficando nervosa também.
– Eu preciso saber! – Nicardo respirou fundo – Você e eu... Nós dois... Tudo continua igual?
– Como assim? – fiz de desentendida.
– Beatriz! – ele se irritou – Estou falando serio!
– Eu também! – estava muito nervosa.
– Não! – ele voltou a me segurar – Está tentando fugir!
– Eu não estou tentando fugir porque eu não sei o que estamos conversando! – tentei parecer convincente.
– Será que não? – ele me soltou.
– Será que pode ser mais claro? – cometi a estupidez de dizer isso.
– Você e eu ainda estamos juntos? – ele ficou com raiva – Nada mudou? Continuamos sendo namorados? O fato de Alexis ter voltado ao significou nada para você?
– Calma! – engoli a seco.
– Acho que não preciso de resposta.
– Espere! – falei um pouco alto.
– Esperar o que? – Nicardo estava chateado – Você oficializar o fim de nós dois?
– Não! – estava confusa.
– Então o que?
– Nicardo, espere. – respirei fundo – As coisas não são assim. Elas não são assim. Não são assim.
– Que coisas que não são assim, não são assim, não são assim? – ele debochava do meu nervosismo. E o pior de tudo: com razão.
Minha cabeça estava começando a doer e meu coração estava ficando apertado. Uma grande angustia surgia no meu peito e tomava conta de mim de uma forma avassaladora. Estava começando a ter dificuldades para respirar e não sei se conseguiria terminar essa conversa bem de saúde.
Fiz o que não devia ter feito.
– Nada mudou! – estava me sentindo pior ainda por ter dito isso.
– Como assim nada mudou? – Nicardo estranho.
– Nós dois. Nada mudou. – estava morrendo de medo de magoar-lo.
Nicardo me abraçou forte e aliviado, apesar de seu rosto continuar desconfiado do que eu disse.
Do ombro de Nicardo, pude ver Alexis. Não sei o que me cortava mais o coração: Enganar tão descaradamente o Nicardo ou ferir os sentimentos de Alexis de forma tão cruel. Eu estava sendo um monstro. A dor que sentia já não era mais apenas sentimental, era uma dor física. Meu peito parecia que estava se fechando dentro de mim e esmagando meu coração e os meus pulmões. Eu estava sendo medrosa e isso me envergonhava demais.
Chegamos à capital já era de noite. O submarino havia sido usado em sua velocidade máxima, por isso chegamos no mesmo dia. Seguimos direto para casa de Neandro e Linfa.
– Vocês dois parecem que não pensam! – Neandro dava uma bronca em mim e no Alexis – Onde já se viu, ficar se enfiando dentro de bosques. Não sei qual dos dois é pior, se é você que conseguiu sair do bosque e teve a capacidade de voltar para quase ser transformado ou se foi você que poderia ser capturada e morta.
– O que vocês fizeram foi muito perigoso! – Linfa estava mais tranquila.
– Eu admito, fui impulsiva e não pensei nas consequências! – se tem algo que aprendi com sermões e que sempre devemos admitir que erramos quando realmente erramos, mesmo que não seja necessário. Pelo menos diminui o sermão.
Depois que as coisas ficaram mais calmas, sai para a varanda. As três luas estavam lá, lindas e brilhantes e eu confusa e perdida. Não sabia o que fazer. Queria muito correr para os braços do Alexis e viver minha felicidade, mas não queria que Nicardo se machucasse com isso.
– O que está pensando? – Cosmo sentou ao meu lado – Sonhando com as luas?
– Na verdade eu estava pensando. – respondi – O que eu irei fazer com Nicardo?
– Esse dilema ainda? – Cosmo achou graça.
– Sim, esse maldito dilema! – não gostei do deboche – Eu não quero magoar ninguém. Amo muito os dois e não queria que ninguém sofresse.
– E o que você vai fazer? – Cosmo ajeitava os óculos – Ficar com os dois?
– Não! – senti-me ofendida – São amores diferentes. Eu amo muito o Nicardo, mas não desejo passar o resto da minha vida com ele. Pelo menos não como homem. Já o Alexis é muito mais que uma paixão passageira. O Alexis é amor de verdade!
– Então eu não vejo motivos para confusão! Termine com Nicardo e fique com Alexis! – Cosmo fazia tudo parecer tão simples.
– As coisas não funcionam desse jeito! – bufei – Queria arranjar uma forma de não fazer o Nicardo sofrer. Sinto-me tão mal de ficar enganando o Nicardo.
– Pense bem? – Cosmo ajeitava novamente os óculos – Enganar o Nicardo dando a ele falsas esperanças e muito pior do que você ser franca e dizer que está apaixonada pelo Alexis novamente. Isso não é só covardia. É crueldade!
– Eu sei disso! – botei a mão na cabeça – Mas eu tenho muito medo!
– Medo do que? – Cosmo segurou minha mão – De ser feliz?
– Não...
– Beatriz você está apenas adiando dias de felicidade! – Cosmo me interrompeu – Quanto mais tempo você fingir que nada mudou pior vai ser. A mentira nunca é o caminho. Você só estará afastando a felicidade de você, do Alexis e do Nicardo. Todos irão se machucar muito mais se você continuar assim.
– Mas eu não sei se consigo.
– Você já enfrentou coisas bem piores! – Cosmo sorriu.
– Mas a situação é bem diferente! – consegui achar graça.
– Não se preocupe tanto em magoar os outros. – Cosmo ficou sério – Às vezes devemos ser egoístas. Não podemos adiar nossa felicidade em prol da felicidade dos outros, sendo que no seu caso a felicidade seria justamente o que você tanto foge.
– Não sei se consigo pensar assim.
– Mas deve! – ele botou a mão em meu ombro – Nicardo ficaria magoado? Sim, por um tempo, mas e depois? O que você acha que ele vai preferir? Ver você infeliz ao lado dele ou ver-la cheia de alegria ao lado de Alexis?
– Eu...
– Não diga nada! – Cosmo interrompeu novamente – Apenas pense nisso. Espero que consiga tomar a decisão certa e escolher o caminho que lhe trará a felicidade.