Felipe Reino
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CAPÍTULO 4: AMADEUS

9/9/2011

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Eu havia visto aquele rosto apenas uma vez, mas já era o suficiente para gravar-lo para o resto da vida. Aqueles cabelos loiros, os olhos esverdeados e o porte de nobreza faziam dele uma pessoa única. Ainda usava um brinco na orelha, mas já havia abandonado a velha e gasta armadura dourada que o vi usando da primeira vez.

– Você conhece esse jovem? – Rei Céleo perguntou.

– Não exatamente. – falei aproximando-me do rapaz – Nós nos conhecemos na época em que fui presa em Calidora com o Nicardo. Ele não é uma pessoa ruim. Deixem que entre.

– Tem certeza? – Alexis perguntou desconfiado.

– Acho que sim. – minha resposta não o agradou.

Rei Céleo fez um sinal com a mão permitindo que o jovem entrasse. O que ele queria? Como esse rapaz havia me encontrado? Eu não me lembrava das coisas que conversamos, mas tinha quase certeza de que não havia dito nada que o fizesse chegar até aqui. Mas isso agora não importava.

Fomos para a sala do trono e Alexis trancou a porta. Pelo visto ele estava mesmo interessado em saber quem era o jovem loiro. E para falar a verdade, eu também.

– Então, jovem, qual o seu nome? – Rei Céleo perguntou.

– Da última vez que nos falamos eu fique lhe devendo isso. – o jovem se direcionou a mim, o que fez parecer uma afronta ao Rei Céleo.

– Meu nome é Amadeus Abnara Policarpo Laerte de Calidora, príncipe e herdeiro do reino de Calidora. Ou pelo menos era.

– O que?! – Alexis gritou.

– Isso é sério? – perguntei.

– Mas é óbvio que não! – Alexis já começava a se irritar – O que quer aqui? No mínimo deve ser um espião...

– Essa história de novo não Alexis! – já fui cortando logo o assunto – Eu estive com ele nas masmorras. Ele é tão vitima quanto nós. É tão difícil assim acreditar nos outros?

– Não! – Alexis falou em um tom seguro – Mas a história dele é absurda.

– Por quê? – perguntei.

– Amadeus está morto há anos. – Alexis fitou com ódio o rapaz – Há 19 anos para ser mais exato.

– O que? – estranhei.

– Espere. – Rei Céleo não parecia bem – Deixe-me olhar para você.

– Papai, você não está acreditando nesse...

– Quieto! – Rei Céleo falou tão alto que chegou a fazer eco – Como não reparei antes?

– Papai...

– Já disse para ficar quieto Alexis! – o Rei Céleo falou mais baixo desta vez.

– O que está havendo? – sussurrei enquanto via o Rei Céleo analisar com cuidado o rosto do jovem que se dizia príncipe de Calidora.

– Papai e o Rei Hiero, antigo rei de Calidora, eram muito amigos. – Alexis também sussurrou – Eu tinha apenas dois anos, mas me lembro que papai ficou arrasado quando ele morreu e mais arrasado ainda quando o verdadeiro Amadeus morreu.

– Você é a cara de seu falecido pai, Hiero. – Rei Céleo estava emocionado – Mas seus olhos são da sua mãe, a Rainha Evelyn. Olhos verdes.

– Papai! – Alexis reclamou, mas o pai o ignorou.

– Eu me lembro muito bem da música – Rei Céleo começou a contar suas lembranças – foi o baile mais bonito que Calidora já viu. O tão esperado herdeiro estava para nascer.  

– Do que você está falando? – Alexis tentou, mas uma vez, interromper o pai.

– Eu me lembro como se fosse hoje. – Rei Céleo continuou falando – Calidora inteira estava em festa. Sua família estava em uma felicidade enorme, mas nem de longe chegava perto da felicidade indescritível que seu pai, Rei Hiero, estava.

– Papai, o Rei Hiero deve estar se retorcendo no túmulo! – Alexis falou alto.

– Ele parecia finalmente ter começado a viver. – Rei Céleo estava com o olhar longe – Ninguém desejou tanto um filho quanto seu pai te desejou. Ele estava realmente no paraíso. Mas então aconteceu...

– O que aconteceu? – sussurrei para Alexis.

– O início das tragédias aconteceu quando Hiero descobriu que estava com uma rara doença.  – Rei Céleo continuou a história – Ele sofreu muito, principalmente quando soube que poderia não ter a oportunidade de conhecer o seu filho. Eu fui testemunha de como um homem pode entrar em dois extremos tão repentinamente quanto um raio.

– Papai... – Alexis já estava começando a me incomodar.

– O seu reino também sofreu com isso. – Rei Céleo continuava ignorando Alexis – Enquanto Hiero estava em extrema alegria seu reino estava em paz, feliz, prosperando e compartilhando dessa felicidade tão grande. Mas quando ele descobriu sua doença e entrou no extremo da tristeza... Não foi nada bonito ver Calidora cair em depressão. O reino inteiro sentiu pela doença do rei e passaram tempos de muita infelicidade e dor.

Rei Céleo parou por alguns minutos. Seus olhos estavam cheios de lágrimas. Ele respirou fundo e tentou se recuperar da emoção, mas não teve muito sucesso e acabou ignorando as gotas de lágrima que insistiam em cair.

– Quando Hiero faleceu, isso eu me lembro como se fosse hoje, o reino entrou em desespero. – Rei Céleo conseguiu falar – Na época Calidora e a Capital estavam fazendo grandes negócios. Lucrativos negócios. Nós também sentimos a morte de Hiero e entramos em luto junto a Calidora.

– Eu me lembro desse fato! – Alexis mudou o disco, mas foi novamente ignorado.

– Talvez o único erro de seu pai fosse o de ter confiado o trono ao Circeu, o conselheiro real. Circeu nunca me inspirou confiança. Não acredito que ele lhe devolveria o trono quando completasse a maior idade. – Rei Céleo estava mais calmo – Sabia que aquela não era a escolha mais prudente, acabei deixando que ele cometesse essa loucura.  

– Papai...

– Poucas semanas depois você nasceu. Ou melhor, você morreu. – Rei Céleo parecia não notar Alexis.

– Isso se ele realmente for o Amadeus...

– Alexis! – eu disse em um tom repreensivo.

– Sua mãe ficou arrasada com a morte de seu pai. – Rei Céleo continuou – A única coisa que a mantinha de pé era você. Acho que você era a única força que a sustentava. Foi muito doloroso para ela perder você também. Foi muito difícil para ela suportar tudo sozinha.

– Papai, já chaga! – Alexis falou bem alto.

– Alexis, o que é isso? – perguntei nervosa.

– Papai este sujeito não é Amadeus! – Alexis ficou frente a frente com o pai – Pare de agir como se ele fosse. O senhor não vê os absurdos que está dizendo.

– Absurdos que eu vejo estão saindo de você! – ele finalmente deu atenção ao filho – Não sabe o que diz. Ele é Amadeus Abnara Policarpo Laerte de Calidora, o príncipe e herdeiro do reino de Calidora. – Rei Céleo se afastou do filho – Neste momento era para ele estar sendo coroado rei.

– Não! – Alexis gritou – O senhor está muito equivocado.

– Alexis, por favor, não faça confusão. – pedi.

– Eu não estou fazendo confusão – Alexis continuou fitando o pai – Eu apenas quero fazer meu pai acordar.

– Eu não posso te obrigar a acreditar em mim – o suposto Amadeus resolveu se defender – sua opinião não irá mudar em nada o fato de que eu sou Amadeus Abnara Policarpo Laerte de Calidora.

– Você disse o que? – Alexis se estressou.

– Alexis, você estava pedindo isso. – tentei levar no humor.

– Beatriz, você também está do lado desse...

– Olha, não vá dizer besteiras! – coloquei o dedo indicador na frente da boca.

Alexis olhou pra mim, para o Rei Céleo e para Amadeus. Ele fez um sinal negativo com a cabeça olhou para cima e bufou. Estava com saudades disso. – Tudo bem – ele deu um sorriso claramente falso – eu irei lhe dar o beneficio da dúvida. Explique-se.

– Explicar o que? – Amadeus fitou Alexis.

– Não se faça de sonso! – Alexis gritou – Você sabe muito bem o que eu estou pedindo.

– Alexis! – o segurei – Acredito que ele queira que você conte como sobreviveu. Certo?

– Se é apenas isso... – Amadeus e Alexis trocaram mais olhares ameaçadores – Não sei contar como, mas a mulher que me criou e que por muito tempo acreditei que fosse minha mãe me roubou no dia que nasci.

– Já começa dando furo? – Alexis provocou.

– Deixe-o falar! – Rei Céleo repreendeu o filho.

– Como estava contando – Amadeus novamente provocou Alexis com o olhar – Fui criado por uma mãe adotiva e só vim descobrir isso poucos meses antes de completar 18 anos. Fui descoberto por Hiero, que junto com Bianor, acabou descobrindo quem eu era de verdade. Hiero ficou furioso e mandou prender minha mãe adotiva. Não sei o que aconteceu a ela, mas acredito que não deva ter sido nada de bom.

– Imagino. – Rei Céleo estava prestando atenção em cada palavra.

– Fui preso, mas fugi usando uma armadura velha como disfarce. – Amadeus sorriu – Acabei sendo preso outra vez. Foi engraçado.

– Desde quando ser preso é engraçado? – Alexis provocou – Você realmente não deve bater bem da cabeça.

– Alexis... – desta vez eu que o repreendi.

– Eu achei engraçado devido às circunstâncias em que fui pego. – Amadeus sorriu de novo – Estava andando pelos corredores do castelo e acabei entrando em um quarto. Um quarto que deveria estar sendo vigiado, mas aparentemente não estava.

– E isso é engraçado? – Alexis debochou.

– Não – Amadeus continuava sorrindo – O engraçado foi pegar Hiero sentado em um trono... especial, se é que me entendem.

Todos nós rimos neste momento. Alexis tentou segurar, mas acabou dando uma gargalhada leve, quase imperceptível. O Rei Céleo sorriu discretamente, mas soltou algumas rápidas risadas. Só eu e o Amadeus que estávamos as gargalhadas altas.

– Isso é humilhante! – Alexis resolveu tirar a graça da história.

– Isso é engraçado sim! – rebati.

– Continue. – Rei Céleo resolveu encerrar o assunto.

– Eu acabei ficando, contando com os dias antes da fuga, um ano preso. – Amadeus prosseguiu – Foi então que a encontrei. Beatriz, certo?

– Sim. – respondi.

– Ela estava acompanhada de um rapaz simpático. Onde está aquele rapaz? Se não me engano ele era seu namorado? – Amadeus estava começando a perder a noção do perigo.

– Disse muito bem – Alexis falou alto – era namorado dela. Agora não é mais. Eu estou com ela e ficarei para o resto da vida.

– Que destino horrível você foi arranjar! – Amadeus provocou.

– Ora seu... – segurei Alexis antes que ele fizesse uma loucura.

– Calma Alexis – dei um rápido beijo nele – Eu bem que reparei na sua postura. Você parecia mesmo agir como um príncipe.

– Minha mãe adotiva me ensinou tudo. – Amadeus deu um sorriso melancólico – Acho que ela tinha esperanças de que eu conseguisse tomar o lugar que é meu de direito. Ela me ensinou até alguns truques de magia.

– Magia? – Alexis gritou.

– Claro que se eu tivesse sido treinado por magos da realeza eu estaria em um nível mais avançado – Amadeus resolveu ignorar Alexis.

– Então é por isso que... burro! – Alexis deu um tapa na cabeça – Eu não reparei nisso. Você usou magia para fazer os homens adormecerem?

– Óbvio... que não. – Amadeus brincou – Aquilo são apenas truques de combate e defesa.

– E como você chegou até aqui? – perguntei.

– Seguindo o seu rastro. – Amadeus foi direto – Eu senti que deveria te encontrar e fui atrás de você. Eu posso sentir onde as pessoas estão.

– Sentir? Tipo, farejar? – perguntei.

– Não. – ele achou graça – Isso é para lobos. Eu apenas sinto a presença dentro de minha mente. Eu vejo o caminho até ela na minha cabeça e sigo.

– Que estranho. – Alexis zombou.

– Depois eu fiquei sabendo que você era a Mallory e resolvi ficar ao seu lado. – Amadeus se aproximou de mim.

– Tira a mão! – Alexis entrou na minha frente – Pode parar com esses olhos de urubu porque Beatriz não é carniça.

– Alexis! – briguei – Pare!

– Não se preocupe. Eu não ligo – Amadeus sorriu – mas se isso te tranquiliza, eu quero apenas ajudar nas batalhas.

– Você está louco? – Alexis gritou – Mas nem pensar!

– Por que não? – perguntei – Alexis, nós precisamos de toda a ajuda que conseguirmos.

– Mas quem disse que ele vai nos ajudar? – Alexis ficou irritado – Não confio nele.

– Alexis! – Rei Céleo falou alto.

– Mas eu confio. – disse me afastando um pouco de Alexis – E gostaria muito que ele ajudasse.

– Mesmo contra minha vontade? – Alexis perguntou em um tom de ameaça.

– Claro! – fui firme – Se isso for para ajudar a salvar Ofir.

– E também concordo com Beatriz. – Rei Céleo se aproximou – Ele é visivelmente um jovem forte. Percebe-se de longe que ele sabe lutar e ainda tem alguns conhecimentos de magia.

– Isso eu ainda tenho minhas dúvidas. – Alexis bufou.

– Mas, desta vez, você é voto vencido! – falei com gosto – Amadeus, pode ficar com a gente. Você será muito bem recebido por todos, não tenho dúvida!

– Desisto! – Alexis bufou mais uma vez – Mas depois não venham chorando dizendo que ninguém avisou nada.

– Alexis, escreva o que eu digo e não tome isso de forma negativa – Amadeus sorriu – você ainda vai me pedir desculpas. Pode ter certeza.

– Mas era só o que me faltava!

De repente, um barulho de explosão invade todo o castelo. Apesar de o som ter sido muito alto, não parecia estar vindo de dentro do castelo.

– Majestade! – um guarda entra desesperado – Estão invadindo a cidade!
1 Comentário
Pryh
27/9/2011 03:36:00 am

O Alexis surtou tanto com o Amadeu que pareceia que além do cara estar dando em cima da beatriz - na visão dele - ainda queria o trono dele ou sei lá.
Bem acho que o melhor a fazer é esperar pelos que vc prepara^^

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    02. Sonhos E Discussões
    03. Estranhos Conhecidos
    04. Amadeus
    05. Explosões
    06. Medos
    07. Acordando Com Os Lobos
    08. Caminhos Que Não Levam A Nada
    09. Decisão Arriscada
    10. Estratégias E Lendas
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