– Neandro? – perguntei – Como funciona exatamente esse cristal?
– Não há nenhum mistério, basta você juntar os cristais e levar-lo para o ponto indicado – Neandro explicava – e depois esperar que Dâmaris sair do cristal e realize o seu pedido. Cada pessoa presente no local pode fazer um desejo, mas apenas um, e tem que ser dito quantas pessoas farão o pedido.
– Então se um reino inteiro for até Orestes, todos poderão fazer um pedido? – perguntei.
– Na verdade a intenção de Dâmaris com esse cristal era justamente essa – Neandro olhava para baixo – Ela não queria ir e deixar o reino dela desamparado.
– Neandro, olhe! – Nicardo gritou.
– Essa não... – Neandro mudou suas expressões para extremamente desapontado.
– O que foi? – me virei para ver e me assustei – Mas o que é isso?
– São aves de rapina! – Nicardo respondeu.
– E o que elas roubam? – perguntei assustada.
– Neste momento, acho que ela está de olho em todos nós! – Tales respondeu.
Eram duas aves imensas, que parecia um cruzamento de águia com uma arara, mas com patas iguais a de um leão e o tamanho de um elefante. Imaginei como elas conseguiam voar com todo aquele peso.
– O que vamos fazer? – perguntei.
– Tales? – Neandro tomou o comando – Você o Nicardo e a Se... Princesa Thalassa ficam no balão e tentem manter as aves afastadas.
– Entendido! – Tales bateu continência.
– Eu irei distrair o monstro e Alexis e Beatriz irão atacar-los, mas não matem! Apenas tentem fazer-las cair ou mudar de direção. – Neandro olhou para nós – Depois eu entro e ajudo os dois, mas por hora é necessário fazer com que o balão prossiga para Orestes e manter essas aves o mais afastado possível do balão.
Era uma missão muito arriscada para todos nós, porém, era mais arriscada para nós três que estaríamos voando. Caso ficássemos exaustos demais, nosso “tanque de magia” ficaria seco e nós cairíamos não sei quantos metros de altura. Precisávamos ser rápidos e tentar usar poucos artifícios mágicos, ainda tínhamos uma batalha muito importante pela frente e precisávamos estar bem dispostos.
Neandro começou chamando a atenção das aves para o lado oposto de onde o balão estava seguindo com sua espada. Ficamos esperando ele dar o sinal para atacarmos. Ele mexeu a espada para um lado e para o outro como se estivesse hipnotizando as aves, até que ele finalmente deu o sinal.
Alexis partiu para cima de uma das aves com sua espada e eu ataquei a outra usando bolas de água. As aves fizeram uns barulhos estranhos com as asas e as patas e pareciam estar ficando pesadas.
– Alexis – gritei – acho que sei o que fazer.
Alexis parou de atacar as aves. Ele estava acertando a espada na pata e no bico da ave, apenas para chamar a atenção. Ele parou e veio em minha direção.
– O que você disse? – mesmo de perto o vento não deixava a voz se propagar direito.
– Eu sei como tirar-las do nosso caminho. – disse enquanto Neandro se aproximava de nós.
– O que a sabidinha quer fazer? – Alexis perguntou debochado.
– Elas não conseguem voar com as penas molhadas. – disse enquanto uma das aves seguia em nossa direção. A outra veio atrás.
– Claro, já entendi! – Neandro socou a palma da mão – Alexis ajude-me a distrair as aves!
– O que? – Alexis gritou.
– Ajude-me a distrair as aves! – Neandro repetiu.
– Que legal! – Alexis fez a serie de expressões que há muito tempo não via.
Alexis e Neandro passavam feito mísseis entre as duas aves, o que pareceu deixar-las bem irritadas. Elas deixaram de prestar atenção em mim e começaram a tentar bicar Neandro e Alexis.
Aproveitei o momento e comecei a fazer uma imensa bola de água para molhar as duas. Minha intenção era deixar-las pesadas demais para voarem e que fossem obrigadas a planar e fazer uma “aterrissagem de emergência”.
As aves começaram a perder velocidade e tiveram dificuldade para continuar voando, mas ainda não haviam caído. Tentei novamente, mas as aves esquivaram. Alexis e Neandro continuaram chamando a atenção das aves, mas elas pareceram entender que o perigo mesmo não estava nos dois, mas em mim.
As aves – com um pouco de dificuldade – voaram em minha direção. Eu estava começando a ficar fraca. Voar e atirar bolas enormes de água exigia muito de mim e estava com medo de não aguentar por muito tempo.
Foi então que me lembrei da época em que treinava magia com Neandro, nas montanhas atrás da casa dele. Eu havia aprendido a controlas pássaros e peixes, talvez eu conseguisse.
Comecei a me concentrar e tentar entrar na mente das duas aves. Era mais difícil controlar duas aves do tamanho de um elefante do que dois pequenos pardais, mas aparentemente estava conseguindo. As aves começaram a se afastar do balão, como eu estava querendo que fizesse. Após se afastarem, comecei a fazer com que elas pousassem, mas não sabia onde já que só havia mar por todo lugar que passássemos.
Comecei a me sentir ainda mais fraca e por alguns instantes quase fiquei desacordada até que as aves desceram em direção ao mar, feito aviões perdendo o controle. BUUM! BUUM! As duas caíram na água. Assim que vi a cena, desabei e senti meu corpo caindo.
– Opa! – era Alexis – Que garota pesada. – foi à última coisa que ouvi.
“Não tenha medo!” uma voz feminina, doce e aconchegante entrava em meus ouvidos.
Abri os olhos. Estava em um lugar completamente branco. Não havia absolutamente nada, apenas um grande e vazio branco. Levantei-me e tentei andar, mas ainda estava fraca. Tentei encostar-me em alguma parede, mas o local parecia não ter paredes. Parecia também não ter chão, pois a sensação que tinha era de que estava flutuando.
“Venha ate mim!” a voz parecia vir de todos os lados. “Não tenha medo!”
– Onde você está? – gritei. – Eu quero te ver!
“Você foi audaciosa em fugir do seu destino e não se transformar em Mallory, como dizia a profecia. Parabéns” a voz agora parecia mais próxima.
De repente uma porta se abriu. O barulho da porta era extremamente alto, mas – por incrível que pareça – era um som tranquilizador. Uma mulher com cabelos loiros e um longo vestido rosa entrava pela porta aberta. A visão de outras cores no meio de uma imensidão branca quase me deixou cega, tão forte havia ficado as cores dos cabelos loiros e do vestido rosa da mulher.
– Você é real? – perguntei.
– Está me vendo, não está? – ela sorriu – Acho que ainda sou real!
– Espere – eu disse – eu conheço você! Bem, se não me engano... Eu já te vi em...
– Um sonho? – ela sorriu novamente.
– Sim, eu te vi em um sonho! – lembrei. – Você... Você era a imagem refletida no espelho!
– Sim, era eu. – ela se aproximava de mim.
– Mas só um momento! – me assustei com a lembrança – Você estava pedindo socorro em meu sonho!
– Acreditei que conseguiriam me encontrar a tempo, mas todos esses imprevistos...
– Espere! – gritei – Está me dizendo que você... Morreu?
– Ainda não, mas receio que isso aconteça muito em breve. – seu olhar ficou triste.
– Como assim? – estava assustada.
– Minhas forças estão acabando. – ela apertava os punhos – Estou perdendo minhas energias e não sei se durarei por muito mais tempo. Trazer-la aqui e lhe passar parte de minha sabedoria exigiu demais de mim. – ela sorriu timidamente – Essa conversa que estamos tendo agora está tomando minhas últimas energias.
– Então pare! – me desesperei – Salve-se!
– Não posso – ela ficou aflita – Preciso lhe dizer algumas coisas antes...
– Você pode me dizer quando nós a acharmos, não morra por minha causa. – segurei em suas mãos. Elas pareciam estar virando fumaça.
– Mas será tarde demais! – Ela fitou o chão. – Acredito que já saiba quem sou?
Só então tinha notado que estava me desesperando por alguém que eu nem sequer sabia quem era. Eu sentia um afeto tão grande por essa pessoa que acabei sentindo que a conhecia desde sempre, como se ela fosse um pedaço de mim.
– Desculpe... – não quis chutar.
– Eu sou Alina Clistenes Melequiades Arrife Briseu do Corpeu de Ofir – eu havia decorado tudinho, do Alina ao sei-lá-o-que de Ofir. – Eu sou a rainha de Ofir, mãe de Alexis e Neandro.
– Eu... Mas... Eu... – não sabia o que falar.
– Não diga nada! – ela colocou o dedo na frente da boca – Precisamos ser rápidas, não posso perder muito tempo. Você precisa voltar para casa!
– O que? – perguntei, mas ela ignorou.
– Se você ficar e lutar contra Bianor, você morrerá. – ela segurava minhas mãos – Você irá querer lutar e ajudar aos seus amigos, mas se fizer isto estará se suicidando.
– Mas...
– Eles irão ficar bem! – ela sorriu – Trousse você aqui para que se juntasse as tropas de Ofir e, com o treino que receberia, liderasse o contra-ataque a Bianor. Você se sairia bem, salvaria Ofir, mas você escolheu não cumprir com seu destino.
– Espere, mas eu não... – tentei me defender, mas fui impedida.
– Você escolheu não cumprir seu destino e agora Ofir cairá em desgraça e terá um ano de trevas. – me senti com toda a culpa do mundo – Se você morrer, não poderá voltar e cumprir o seu destino. Ofir ainda tem uma segunda chance, mas você precisa estar viva para que isso aconteça.
– Entendo... – suspirei.
– Por isso quero que prometa uma coisa. – ela apertou minhas mãos.
– O que? – perguntei.
– Volte para casa, descanse e depois, quando for à hora, volte e lute contra Bianor como deveria ter sido. Promete que não irá lutar agora?
– Prometo! – sorri.
– Agora eu preciso ir. – ela soltou minhas mãos – Breve eu partirei deste mundo, mas ao menos saberei que você estará de volta.
– E como vou saber quando voltar ou como voltar? – perguntei enquanto a imagem dela sumia.
“A caixa” a voz dela voltou a aparecer de todos os lugares “Ela te trará de volta. Saberá quando for a hora”.
Acordei um pouco tonta. Não estava exatamente sonolenta, mas era algo bem parecido. Meus olhos estavam pesados e demorei um pouco para conseguir abrir-los. A luz parecia mais forte e irritava meus olhos, mas aos poucos comecei a reconhecer o local onde estava. Era o balão.
– Ela está acordando. – era a voz de Nicardo.
– Essa trapalhona! – a voz de Alexis – Quase estragou tudo!
– O que está... – comecei a falar, mas fui interrompida.
– Chegamos! – era a voz de Tales.
– E você sabe descer o balão? – era a voz de Thalassa.
Abri de vez os olhos e comecei a tentar me levantar. Pude ver todos perfeitamente e a luz já não me atrapalhava mais.
– Calma! – Neandro me segurou – Tente não fazer muito esforço!
– Você fez de propósito. – a voz de Alexis parecia nervosa. Ele estava atrás de mim – Você gastou todas as suas energias com aquelas aves idiotas só para fugir da luta contra Bianor.
– Alexis! – Nicardo estava com uma voz mais severa – Se aquelas aves não tivessem sido impedidas elas poderiam ter furado o balão e, só para não terem feito algo inútil, iriam nos devorar.
– Humpf! – Alexis bufou – Poderíamos ter feito de outra forma.
– Talvez – Neandro colocou a mão no ombro do irmão –, mas se Beatriz não tivesse feito o que fez, poderíamos ter ganhado o destino que Nicardo descreveu sim!
– Você está melhor? – Thalassa segurava minha mão.
– Acho que sim. – respondi colocando a mão na cabeça.
– Ela não está em condições de lutar. – Nicardo segurava em minha cintura.
– Eu estou falando... – Alexis começou a falar, mas foi interrompido.
– Besteira! – Tales gritou. O balão já estava no chão. – Vamos descer?
Tive a ajuda de Nicardo para sair do balão. Ele me pegou no colo e depois me colocou em suas costas.
Orestes era exatamente como eu imaginava que um deserto seria: Quente e árido. A terra tinha um marrom alaranjado, com alguns rachados no chão. O vento que soprava por lá era abafado e parecia estar prejudicando minha respiração.
– Acredito que Bianor ainda não fez nada. – Neandro respondia os meus medos – Se ele tivesse feito algo já estaríamos sofrendo as consequências.
– Mas agora em que parte de Orestes estaria Bianor? – Alexis se perguntou.
– Talvez ali? – apontei para um grande fecho de luz que saia de não muito distante dali.
Todos correram o mais rápido que puderam. Nicardo ficou alguns passos para trás e desta vez a culpa era minha – ele estava carregando uma sobrecarga: eu. Seguimos a direção do fecho de luz e não demorou muito para encontrarmos com Bianor.
O fecho de luz se estendeu e se transformou em uma grande bola cinza claro, com raios e pequenos fechos de luz em torno dela. O cristal estava se remontando e logo formou a imagem de um cristal como eu imaginava. Ele subiu até o topo da bola e algo começou a aparecer.
Era a imagem de uma moça com os olhos prateados e longos cabelos lilás. Vestia um vestido longo branco e tinha em um de seus ombros um falcão dourado e em uma de suas mãos havia um cetro de prata.
– Dâmaris! – Alexis olhava maravilhado.
– Eu sou Dâmaris, eterna protetora de todos os justos – os olhos dela ganhava uma cor esverdeada – Atenderei a um pedido seu e de quem mais o estiver acompanhado. Quantas pessoas atenderei hoje?
Antes que Bianor respondesse qualquer coisa, Alexis correu em direção a Dâmaris e nós fomos atrás, caso Alexis estivesse prestes a nos arranjar confusão.
– Duas! – Alexis gritou – Duas pessoas querem fazer seus pedidos hoje!
– Alexis? – perguntei. Já conseguia me manter em pé sozinha.
– O mais importante agora e te mandar de volta para casa.
– Achei que havia me livrado de vocês. – Bianor resmungou – Mas não cometerei o erro novamente.
– O primeiro pedido? – Dâmaris perguntava.
– Torne-me o mago mais poderoso deste mundo! – Bianor gritou.
– Seu desejo será realizado. – Dâmaris fechou os olhos e aparentemente nada pareceu acontecer. – Próximo desejo?
– Meu desejo foi atendido? – Bianor se perguntou – Vamos ver?
Então uma lembrança me veio no exato momento em que eu olhei para o chão. Um pouco de grama e o restante terra seca, exatamente como em meu sonho. E seu eu bem me lembrava, agora não teria uma boa cena.
Assim como em meu sonho, Bianor levantou os braços e ordenou para que um cometa caísse em Orestes e transformasse o deserto em um mar de fogo. Não demorou e um cometa caiu entre nos e começou a por fogo no chão, que abriu fechos imensos de fogo entre as fendas na terra.
– Agora lutem! – Bianor fazia um gesto com a mão convidando-nos para lutar.
Alexis embainhou a sua espada e Nicardo fez o mesmo. Neandro trousse desta vez duas espadas aparentemente normais e assustadoramente letais. Tales fez o seu botão se transformar em uma imensa espada curva, que me fez lembrar espadas de samurai e Thalassa parecia se concentrar, provavelmente preparando uma magia com água.
Eu estava imóvel. Havia prometido não lutar e me sentia horrível por isso. Apesar de já estar de pé, ainda me sentia fraca e começava a pensar que se tentasse lutar realmente iria morrer.
Alexis atacou Bianor, mas a sua espada esquivou o golpe. Bianor estava controlando. Tales, Neandro e Nicardo tentaram fazer o mesmo e novamente Bianor controlou a situação. Thalassa finalmente jogou uma grande onde que só serviu para apagar temporariamente o fogo, que acabou voltando depois.
Alexis voltou e tentou atacar de novo, mas foi suspenso no ar e posto de cabeça para baixo e depois jogando em direção a uma rocha. Neandro e Nicardo tentavam se esconder, provavelmente querendo pensar em algo. Tales tentou atacar Bianor pelas costas, mas foi arrastado por debaixo das pernas de Bianor e jogado para longe.
A essa altura o fogo já estava quase nos alcançando. Eu estava desesperada. Estava vendo meus amigos se machucando e não podia fazer nada. Thalassa passou para o meu lado e começou a afastar o fogo de perto de mim com golpes de água.
Bianor parecia estar brincando com eles e os fazia girar e se jogarem no chão. Tales pareci querer vomitar, assim como Neandro. Nicardo estava com queimaduras nas costas, ele havia sido jogado ao fogo, mas o pior foi reservado para Alexis.
Bianor colocou Alexis de joelhos e o fez corta as próprias costas. Foi uma cena apavorante e extremamente dolorosa de se assistir.
– Quero ver-lo mutilado! – Bianor sorria diabolicamente. – O que vamos arrancar primeiro? Que tal esse braço.
Bianor fez Alexis estender o braço esquerdo e, bem devagar, o fez começar a corta o braço. Alexis gritava de dor e sentia as lágrimas caírem desesperadamente do meu rosto. Eu não podia ver aquilo sem fazer nada.
– Pare! – gritei desesperada – E a mim que você quer! Eu sou a Mallory! Eu sou a verdadeira ameaça!
Bianor pareceu deixar Alexis livre, que segurava o braço como se não quisesse deixar-lo cair.
– Você está dizendo que é uma ameaça? – ela gargalhou – Onde?
– Deseja mesmo que eu te mostre? – perguntei.
– Sereia... Divertido! – Bianor fez um trono roxo aparecer e se sentou.
Sabia que poderia morrer, mas não podia deixar que ele torturasse meus amigos. Concentrei-me nas chamas que cresciam cada vez mais e nas ondas que quebravam não muito longe dali. O que estava planejando fazer iria me matar, não tinha dúvida, mas não poderia deixar Bianor vivo. Iríamos morrer os dois.
Uma grande bola de fogo e água se juntou em cima de minha cabeça e no mesmo instante senti meu corpo extremamente fraco outra vez. Estava prestes a lançar a grande bola, quando a voz de Alina apareceu em minha cabeça.
“Não faça isso!” ela ordenava “Pare agora!”
Ouvindo-a falar daquele jeito, realmente Alexis tinha que ser autoritário daquela forma. Fui obrigada a soltar a grande bola de fogo e água que se dissipou por todo o deserto.
– Qual o seu desejo? – Dâmaris ainda esperava.
– Salve... – minha voz estava fraca – Salve Alina e Linfa, não as deixe morrer!
– Seu pedido será atendido! – novamente Dâmaris fechou os olhos. – Parece com sorte, alguém quer que eu a ajude em outra coisa.
Uma esfera preta saiu de dentro das mãos de Dâmaris e mostrou o rosto de minha mãe, aflita, e de Camila.
– O que é isso? – Bianor se assustou.
– Não se preocupe, seu desejo foi atendido. Isto é apenas um presente que me mandaram te entregar, não tenho nada haver com isso. – Dâmaris sorria e de repente a bola se fechou e o cristal explodiu e voou para varias direções.
– É uma passagem! – Neandro gritou. – É sua passagem de volta para casa, Beatriz!
– Venha eu te ajudo! – Nicardo me pegou no colo e correu até o portal.
– Ninguém sairá vivo daqui, apenas eu! – Bianor gritava e um raio caiu na frente de Nicardo.
Não sei dizer exatamente o que aconteceu, estava exausta. Ouvi barulhos de explosões e gritos. Senti um vento forte batendo em mim e uma sensação estranha, de extremo cansaço.
– Vamos juntos para seu mundo! – ouvi uma voz, mas estava tão fraca que não reconheci de quem era.
Senti uma sucção, algo me puxando violentamente. Senti meu corpo se dissolvendo e de repente um branco em minha mente. Depois não me lembro demais nada.
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Epílogo
Minha cabeça doía demais. Meu corpo parecia estar entorpecido e sentia que não me mexia por pelo menos 1 mês e meio. Não estava muito errada.
– Vejam! – uma voz feminina estava emocionada. Parecia a voz da minha mãe – Ela parece estar acordando!
– É mesmo! – era a voz de Camila – Ela está abrindo os olhos.
A primeira coisa que vi quando abri os olhos foram – um pouco embaçado – as imagens de minha mãe e Camila, olhando para mim emocionadas. Eu estava deitada em uma cama que definitivamente não era a minha – era uma cama nada confortável.
– O que aconteceu? – perguntei ainda sem conseguir identificar o local onde estava.
– Você não se lembra? – minha mãe perguntava me dando um abraço.
– Você caiu feio! – Camila sorria.
– Onde é que eu estou? – perguntei.
– Você está em um hospital. – minha mãe respondia. – Você sofreu um acidente.
– Acidente? Ai, minha cabeça está doendo. – reclamei enquanto passava a mão na cabeça.
– Depois daquela queda... Tinha mais é que estar doendo. – Camila estava radiante.
– O que aconteceu comigo? – ainda estava meio grogue.
– Você levou uma queda feia. – Camila explicou – Estávamos indo para a escola e você tropeçou e machucou os joelhos.
– Eu... Ai minha cabeça... Acho que eu... – estava me lembrando – Eu acho que eu me lembro disso.
– Mas você se lembra do que aconteceu depois? – Camila estava muito feliz.
– O que? – perguntei.
– Não sei como, mas enquanto eu pedia ajuda você caiu e rolou estrada a baixo. – um rápido desespero tomou conta do rosto de Camila – Você se ralou toda e ainda bateu com a cabeça em um poste, saiu sangue e tudo.
– Poste? – estranhei, mas se tratando de mim, isso é realmente a minha cara.
– Você ficou pouco mais de 1 mês em coma depois disso. – ela parecia não gostar de lembrar – Fiquei muito preocupada, de certa forma eu era responsável por você.
– Responsável por mim? Você? – achei graça.
– Pode zoar o quanto quiser, hoje nada tira a minha felicidade! – ela me abraçou.
– Eu vou chamar uma enfermeira! – minha mãe parecia ainda não acreditar.
Assim que minha mãe saiu, Camila abriu um grande sorriso e me abraçou com mais força que o habitual.
– Assim você vai me quebrar toda! – disse sorrindo.
Olhei para o lado e vi uma caixa vermelha em cima de um tipo de criado mudo. Algo dentro de mim me dizia para tomar conta daquela caixa, mas não sabia por que.
– Que caixa é essa? – resolvi perguntar.
– Você não quis soltar-la de jeito nenhum! – ela pegou a caixa. – Por algum motivo ela não abre. – Camila forçou varias vezes, mas a caixa não abria.
– Será que posso?... – estendi a mão.
– Claro! – ela sorriu e me entregou – Acho que agora ela é sua!
Assim que segurei a caixa um aperto enorme surgiu em meu peito. Minha cabeça começou a latejar como se eu tivesse me esquecido de algo extremamente importante. Era uma agonia e uma saudade tão grande que não sei explicar.
– O que foi? – Camila me olhou preocupada – Está sentindo alguma coisa?
– Não é nada! – sorri e tentei parecer bem.
A enfermeira chegou, me examinou e fez uma cara agradável de se olhar. Aparentemente estava tudo bem comigo, mas precisei ficar mais uma semana em observação.
Durante toda a semana meus olhos fitaram aquela caixa vermelha como um intrigante fragmente de um passado que eu sentia não lembrar nunca mais. Era estranho sentir que algo de muito importante lhe aconteceu e não saber absolutamente nada sobre ele.
Alguns amigos de escola me visitaram durante a semana, acompanhados do meu professor de inglês e minha professora de biologia. Todos brincavam dizendo querer ter a minha sorte e ficar 1 mês e meio sem estudar. Era cômico ouvir-los falando que eu tinha sorte – geralmente eles fugiam de mim por me considerar azarenta demais.
Antes de uma semana eu já estava fora daquele hospital. Havia recebido alta com três dias de observação, mas minha licença medica da escola ainda valia para mais quatro dias, o que para mim já era mais do que minha sorte costumava oferecer.
As minhas “férias” acabaram me custando um pouco caro quando descobri que havia perdido todas as provas do segundo semestre. Teria que refazer-las e ainda teria que me matar para estudar sobre coisas que eu ainda não havia aprendido. Sabia que meu azar não iria me deixar na mão.
Durante os dias em que estive em casa me senti em um livro que havia lido. Sempre que olhava pela janela do meu quarto me deparava com um rapaz me observando da janela. Não conseguia identificar seu rosto, mas não parecia com ninguém que eu conhecesse. Sempre que saia para ver, ele já havia sumido e isso me irritava de uma forma inexplicável.
No último dia das minhas férias particulares, encontrei um estranho livro debaixo do meu colchão. Era um livro grande, com umas letras estranhas e havia uma fechadura, como um diário. Estava fechado, mas – como a caixa – algo me dizia para deixar-lo muito bem guardado.
Na semana seguinte eu já estava de volta à escola. Pela primeira vez fui tratada com um pouco de respeito – confesso que exagerado – por toda a sala. Assim que entrei, todos da sala me receberam de pé e com aplausos exagerados. Será que eles sentiram tanto a minha falta?
No quadro negro estava escrito a seguinte frase “Beatriz, sua azarada mais sortuda do mundo!”. Contive o riso, mas no fundo havia achado tudo aquilo muito fofo.
– Obrigado a todos vocês! – sorri. – Sei que nem todos me amam tanto assim, mas estou emocionada de ver que, aparentemente, estavam torcendo por minha recuperação.
– Aparentemente não. Estávamos todos realmente torcendo por você! – meu professor de inglês me dava um abraço.
– Chegou a tempo de conhecer o aluno novo! – Camila gritou.
– Claro! – o professor de inglês dava um tapa na testa – Como pude me esquecer. Faz uma semana que chegou um novo aluno na escola. Ele já deve estar chegando. Perguntava muito por você, acho que já se conhecem!
– Desculpe a atraso. – uma voz masculina veio da porta. Eu sentia que já a conhecia, mas não sabia de onde.
– Ele chegou! – o professor de inglês o fez entrar.
Passei todas as aulas fitando aquele garoto. Era tão ruim saber que você conhece uma pessoa, mas não se lembrar da onde. Quanto mais eu o observava, mas eu sentia que deveria lembrar-me daquele garoto, ainda mais depois, quando um grande afeto surgiu em meu peito, como se algo além da amizade pudesse ter acontecido entre nós.
Tive uma rápida dúvida se não haveria acontecido comigo o mesmo que aconteceu com uma protagonista de um romance que assisti uma vez. Será que durante meu coma eu sai do meu corpo e encontrei aquele rapaz, que fez de tudo para eu voltar do coma, mas agora que voltei tudo o que vivi com ele havia sido esquecido? Ignorei esta idéia no ato. Era absurda demais.
A aula acabou e ainda não sabia de onde eu conhecia aquele garoto e nem o que poderia ter acontecido com nós dois. Eu já estava ficando de saco cheio de ter a sensação de que parte da minha vida foi apagada de minha memória.
Tive poucas oportunidades de conversar a sós com esse misterioso garoto, por isso assim que o vi saindo, fiz questão de correr atrás dele e descobrir de onde eu o conheço – isso é, se eu já o conhecia antes.
– Desculpe... – pus a mão em seu ombro.
– Sim? – ele se virou.
– Será que poderíamos conversar?
Fomos para o parque municipal. O parque era um jardim bem grande e havia muitos lugares que ficavam deserto por horas. Ficamos perto de um grande amontoado de árvores, que acabava dando a impressão de que era apenas uma grande árvore. Entramos no meio, escondendo-nos atrás dos troncos e – por algum motivo – isso me fez lembrar algo.
– O que você quer conversar comigo em um lugar tão isolado? – ele disse – Vão pensar que estamos fazendo coisas erradas!
– Tem algo em você que me intriga! – fui direta – Nós já nos conhecíamos?
– Você não está lembrada? – ele sorriu.
– Porcaria, nós já nos conheçamos! – comecei a andar de um lado para o outro.
– Calma, não fique nervosa! – ele segurava meus ombros.
– Por acaso nós... – estava com vergonha de dizer – Fomos namorados?
– O destino não quis assim. – ele olhou triste para o alto.
– Mas você quis... Namorar comigo, não quis? – perguntei ainda com vergonha.
– E ainda quero muito, se me fosse permitido! – ele segurou minha mão.
– Vamos com calma. – soltei minha mão. – Eu sinto que eu devo lembrar-me de você e de mais alguém...
– Não! – ele gritou – Lembre-se apenas de mim! Vamos deixar ele para trás, pelo menos enquanto eu estiver aqui.
– Então realmente há outra pessoa? – dizia para mim mesma – Mas eu deveria me lembrar. Beatriz, Beatriz... O que você andou aprontando menina?
– Você não precisa lembrar! – ele tornou a segurar minha mão – Podemos começar tudo de novo!
– Tudo... De... Novo?...
– Sim, vamos começar tudo de novo! – ele sorriu – Olá, meu nome é Nicardo e o seu?
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NÃO PERCA A SEQUÊNCIA DA EMOCINANTE E DELICIOSA HISTÓRIA DE BEATRIZ
MESE
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